Perguntaram-me por que não costumo dar conselhos sobre investimentos pessoais, mesmo tendo escrito dois livros sobre educação financeira. Respondi que não o faço pelas mesmas razões pelas quais um médico não escreve artigos receitando medicamentos para todas as pessoas que têm dor nas costas. A dor pode ser a mesma, mas os pacientes são diferentes. No mundo dos investimentos é a mesma coisa. Ademais, o ser humano tem a mania de se achar genial quando tem sucesso e de culpar os outros quando coisas ruins lhe ocorrem.

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As finanças pessoais são... pessoais, e não dizem respeito apenas a investimentos. Elas dizem respeito a um plano para a vida, que tem a ver com a forma de ser da pessoa, sua filosofia de existência, seus objetivos e a forma como ganha, como gasta e como conserva dinheiro. Os investimentos financeiros (que são a ciência do dinheiro fazendo dinheiro) são apenas uma parte do plano para o tempo que nos é dado sobre a Terra.

Se quero planejar minhas finanças pessoais, antes devo responder a algumas perguntas. O que quero da vida? Como vejo o futuro? Como eu consumo? Admito sacrificar o consumo presente a fim de poupar para a velhice? Quero constituir família? Quero deixar patrimônio para os filhos? Qual a importância do dinheiro em minha vida? Sem responder a essas questões, posso acabar elaborando um plano de investimentos incompatível com o que sou e com meu projeto de vida.

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Há pessoas que buscam atalhos, em geral perigosos, como sair pedindo conselhos e dicas de investimentos. Isso apenas as desvia da principal tarefa, que é conhecer a si e seus objetivos, e tomar decisões compatíveis com esses objetivos. Ninguém escapa de tomar decisões sobre dinheiro. A omissão é um tipo de decisão. Mesmo para quem não explicita sua filosofia de vida e como pensa passar seu tempo na Terra, essas questões estão presentes em suas ações cotidianas.

Observe os atos de um homem durante algum tempo e você poderá explicar quem ele é e como é em termos de suas finanças pessoais, pois os atos do homem refletem sua mente e seu pensamento. Na escolha da profissão, na gestão da carreira, na forma como ganha dinheiro, na maneira como gasta e investe estão presentes sua filosofia e seu pensamento. Mas as decisões financeiras são decisões de vida, e aquilo que me satisfaz e me faz feliz pode não servir para meu vizinho.

Se somos diferentes, o plano financeiro que funciona para mim pode não funcionar para você; por isso, um conselho é: busque o autoconhecimento, descubra o que você quer da vida e encontre um plano financeiro adequado a você. Conselhos financeiros específicos não gosto de dar. Sair dizendo para os outros coisas como "compre tal ação", "aplique em tal ativo", "invista em imóveis", "invista nisto", "fuja daquilo", "faça tal plano de previdência"... isso realmente procuro não fazer.

Ninguém precisa ser economista nem tornar-se especialista em finanças. Conhecimentos técnicos e informações de mercado são fáceis de pesquisar e comprar. Porém, seja qual for o caminho escolhido, é importante interessar-se pelo assunto dinheiro e adquirir conhecimentos básicos. A pior atitude é viver atrás de dicas de amigos e parentes, pois, além de ser meio de fugir da necessidade de fazer algum esforço pessoal para melhorar sua educação financeira, pode ser receita de fracasso.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.

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