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Consequências de uma decisão estúpida
| Foto: Pixabay

No dia 16 de julho deste ano, as ações da Unilever estavam cotadas a US$ 60,60 na bolsa norte-americana. Em 29 de dezembro, cinco meses e meio mais tarde, valiam 53,62, uma queda de 12%. No mesmo dia 16 de julho, as ações de sua principal concorrente, a Procter & Gamble, que fabrica praticamente os mesmos produtos para os mesmos mercados, estavam cotadas a US$ 140,51; em 29 de dezembro, valiam US$ 164,19, com alta de 17%.

Nenhum novo produto foi lançado por alguma das empresas; nenhum produto importante foi retirado do portfólio de nenhuma delas. Então, o que causou a imensa diferença entre o valor de suas ações neste período? O motivo foi a decisão racista da presidente da Ben & Jerry’s, subsidiária da Unilever, de romper o mais antigo contrato da empresa, com Israel.

Muito antes de ser parte do grupo Unilever, a Ben & Jerry’s chegou a Israel em 1987. Até hoje a Ben & Jerry’s tem apenas duas fábricas fora dos Estados Unidos, e a de Israel foi a primeira. Durante 15 meses, a Ben & Jerry’s pressionou tremendamente para sua licenciada de Israel suspender as vendas nas áreas da Samaria, Judeia, Vale do Jordão e Jerusalém Oriental, mas ela se opôs às pressões e seguiu distribuindo o sorvete em todo o país, até que em 19 de julho de 2021 a direção mundial da Ben & Jerry’s (já parte do Grupo Unilever) anunciou ao mundo que não renovará a concessão da marca em Israel ao fim do contrato atual, em dezembro de 2022. A decisão é motivada pela militância da sua presidente Anuradha Mittal junto ao movimento BDS, de boicote a Israel. Ironicamente, a medida afeta 100% dos judeus residentes nestas áreas, mas afeta também cerca de 2,5 milhões de palestinos que já não terão acesso ao sorvete, que não é fabricado nem distribuído nas áreas palestinas.

A Ben & Jerry’s pressionou tremendamente para sua licenciada de Israel suspender as vendas nas áreas da Samaria, Judeia, Vale do Jordão e Jerusalém Oriental, mas ela se opôs às pressões e seguiu distribuindo o sorvete em todo o país.

A lei de muitos estados norte-americanos não permite boicotes econômicos. Ato contínuo, muitos fundos de pensão estatais imediatamente se desfizeram das ações da Unilever, empresa mãe da Ben & Jerry’s (e que, além da marca de sorvetes, também possui as famosas marcas de produtos pessoais Dove, Lux, Axe e Rexona; alimentos como chá Lipton, Knorr, Magnum, Hellmann’s e Arisco; produtos para casa como Omo, Persil, Brilhante, Comfort, Vin e uma imensa série de outros produtos). Muitos indivíduos e gestores de fundos fizeram o mesmo. Diversas redes de supermercados tiraram a marca de suas prateleiras. E, para surpresa geral, a executiva Anuradha Mittal acabou sendo eleita “A antissemita do ano de 2021”, título nada lisonjeiro.

Existem 2,57 bilhões de ações no mercado norte-americano. A perda de valor de mercado da empresa foi de significativos US$ 17.938.600.000, valor superior ao PIB anual de 65 países, entre os quais Bahamas, Montenegro, Geórgia, Armênia, Ruanda, Suriname e Moçambique.

Boicotar os produtos Ben & Jerry’s? A decisão cabe a cada um que me lê. Em seu comunicado, a Ben & Jerry’s diz “opor-se a vender seus produtos em Territórios Palestinos Ocupados”. Eles se “esqueceram” que seus produtos podem ser encontrados em Famagusta, Nicosia, Lefke e outras cidades ocupadas em guerra de agressão da Turquia contra Chipre, guerra esta que forçou a saída de 100% dos greco-cipriotas agredidos pela Turquia, que domina um território que nenhum país no mundo reconhece como seu. Mas isso, por alguma razão, não incomoda a direção da Ben & Jerry’s...

Marcos L. Susskind é ativista comunitário, palestrante e guia de turismo em Israel.

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