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No início deste mês, o governo anunciou um pacote para estimular o consumo através da desoneração tributária dos automóveis. Esse é um modelo promovido nos últimos anos pelos governos Dilma e Lula a fim de estimular a economia na base da fartura do crédito, diminuição de impostos para determinados produtos e expansão do consumo. Isso deu certo enquanto a economia mundial crescia robustamente e enquanto a economia brasileira conseguia incorporar uma parcela expressiva da população que estava à margem do mercado de consumo. Se, por um lado, o efeito desse modelo foi o aumento do consumo doméstico, por outro houve um aumento das importações, desindustrializando o país e elevando o endividamento das famílias – fruto do crescimento mais acelerado do estoque da dívida em relação ao crescimento da renda familiar.

Nos últimos cinco anos, a expansão do crédito garantiu vigor à economia brasileira. Desde meados de 2011, porém, o ritmo de concessão de crédito esfriou, à medida que a inadimplência e o grau de endividamento – um perigo para a sustentabilidade de nossa economia e para o bem-estar das famílias – ferviam e a economia arrefecia.

Estudos da consultoria MB Associa­dos, com base na Pesquisa de Orçamento das Famílias, do IBGE, mostra que 14,1 milhões de famílias comprometeram mais de 30% da renda mensal com dívidas. Quase um quarto das famílias brasileiras se endividou mais do que deveria e foi obrigado a reduzir o padrão de vida ou a ficar inadimplente. A maior parte dessas famílias superendividadas está entre os mais pobres: 5,8 milhões na classe C e 6,6 milhões nas classes D e E. Na média, o brasileiro comprometeu 26,2% da renda mensal com dívidas, diz o estudo da MB. Nos últimos sete anos, o montante da dívida em relação à renda em 12 meses passou de 15% para cerca de 43%. Ou seja, mais famílias estão endividadas e em maior volume.

Se os dados sobre endividamento são ruins, isso tem se refletido na piora do quadro da inadimplência. Não é à toa que, em abril de 2012, ela atingiu o recorde de 7,6%. O que há de perigoso nesse campo não é o nível da inadimplência, e sim o ritmo de alta. Em 16 meses, o índice mais que dobrou, saindo de um patamar baixíssimo, de 2,5%, em dezembro de 2010.

A resposta do governo tem sido falha porque tem faltado fazer um diagnóstico preciso sobre as mudanças estruturais pelas quais passam a economia brasileira e mundial. Em primeiro lugar, as condições de hoje são bastante diferentes das de 2008. As exportações estão caindo, os investimentos estão rareando e o padrão de consumo já não pode ser o mesmo de 2009.

Em segundo lugar, ampliar o consumo no curto prazo implica não termos recursos para investimento no médio e longo prazos, o que penaliza a nossa capacidade futura de crescimento. E precisamos saber em que cadeias globais a economia brasileira irá se inserir. O agronegócio é um bom exemplo de como o Brasil tem tirado vantagem de ser um player de peso no cenário internacional. O endividamento das famílias, em resumo, é o resultado de uma política econômica inadequada que, ao privilegiar o consumo, inibe nossa capacidade de investimento e limita drasticamente a perspectiva de crescimento. Fugir dessa armadilha é uma virtude que o governo não tem tido capacidade de exercitar.

Rubens Bueno, deputado federal, é líder da bancada do PPS na Câmara.

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