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Em Curitiba temos registros de carnavais antigos de rua e de clubes, repletos de pessoas brincando fantasiadas, compondo canções, gerando encontros festivos e bem-humorados nos espaços públicos. Ainda hoje temos um bom número de escolas de samba que, teimosa e heroicamente, vêm realizando festas de momo ano a ano, batalhando para se manterem no tempo, desenvolvendo enredos que revelam a vida, produzindo fantasias, adereços e alegorias e construindo conhecimentos artísticos.

Aqui, o carnaval, como em qualquer outro lugar, é o resultado das negociações constantes entre as várias instâncias envolvidas – religiosas, políticas, populares, econômicas, educacionais – na intenção de buscar satisfazer os desejos de felicidade, alegria e vivência coletiva de festas criativas.

É nessas festas de momo que se pode observar a grande capacidade que as comunidades festeiras possuem de se organizar e estabelecer um rico espaço para repassarem e elaborarem conhecimentos artísticos. E é assim que elaboram e reelaboram permanentemente suas visões de mundo, discutem os problemas das comunidades, expõem os seus desejos de dias felizes e, como diz Bakhtin, vencem o "medo cósmico" – o medo da fúria da natureza, da morte, da fome. É na elaboração e realização da festa que o povo enfrenta o feio, o triste e o poder.

Acredito que o carnaval curitibano não escapa a essas ideias. Nosso Garibaldis e Sacis entoou, nos últimos domingos, seu hino: "Vamos levar nossa alegria por aí, / Vamos brincar com o Garibaldis e Sacis...". Brincar no Garibaldis é unir os elos das nossas misturas, ir das fontes e forças das nossas florestas (sacis) aos nossos mais recentes integrantes desta nação (europeus e asiáticos), cantando, dançando e rindo das nossas pluralidades! Brincando, o ser humano gera linguagens.

As festas populares se configuram como ato de resistência, pois revelam a existência de saberes distintos dos conhecimentos das classes dominantes, tidos, geralmente, como únicos e preferidos. São o momento em que se confirmam e se reforçam identidades, ideias de pertencimento a esta ou aquela comunidade, bairro ou país. Momentos aqui entendidos como sinônimo de resistência, pois, na medida em que a cultura dominante não leva em conta os saberes do povo, manter a pujança destas festas e dos conhecimentos nelas contidos e gerados a cada ciclo que a festa se ergue é reafirmar e resistir.

A festa também é o momento em que o coletivo se apresenta e desvenda cada indivíduo em seu momento mais nobre, em que cada um traz a sua contribuição para formar o todo. Todos esses elementos ligados à festa possibilitam o encontro das pessoas e a vivência de produção, construção e realização de um bem coletivo fundamentado, principalmente, na alegria.

Muito se fala sobre o comportamento introvertido do curitibano, mas o fato de que ele adora uma boa folia é coisa que comprovamos a cada ano com este nosso pré-carnaval e com a persistência das escolas de samba que por aqui colorem a avenida.

Com o riso ressignificamos o mundo à nossa volta, com o riso enfrentamos a seriedade e a rigidez. O nosso bloco Garibaldis e Sacis é uma declaração de 14 anos ininterruptos de amor à vida, a Curitiba e ao Paraná!

Itaercio Rocha, músico, bonequeiro, carnavalesco, é fundador do bloco Garibaldis e Sacis.

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