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Uma bandeira fundamental a ser debatida é como reorientar o velho modelo de produção baseado na indústria mecânica para uma nova economia, com produtos produzidos pelo capital-conhecimento, originados da ciência, tecnologia e, portanto, da educação de base universal com qualidade

Para 2010, podemos desejar que o Brasil seja campeão da Copa do Mundo, que o crescimento econômico ressurja, que a Amazônia seja menos desmatada. Mas, sobretudo, devemos desejar que, nesse ano eleitoral, os candidatos debatam qual reorientação precisamos para nosso futuro como nação.

Nos últimos anos, o debate sumiu da política. A capacidade do presidente Lula para absorver e ampliar os programas que recebeu da atual oposição – seu carisma para convencer a população e adquirir reverência ou bajulação – fez com que o Brasil parasse de debater. Virou lugar comum dizer: "o futuro já chegou". Para quê debatê-lo? É como se, no Brasil, ainda valesse a ideia de que "a história acabou", agora precisaríamos crescer, não mais reorientar o modelo de desenvolvimento.

Neste ano, não se espera debate de ideias entre os candidatos dos grandes partidos. Apenas a disputa entre quem oferecer a maior taxa de crescimento, o melhor PAC e a mais generosa Bolsa Família.

Mas o Brasil e o mundo estão em uma encruzilhada entre seguir o mesmo rumo das últimas décadas ou reorientar seu projeto de nação dentro da globalização. A eleição de 2010 é uma chance para o Brasil e pode significar uma chance para o mundo se formos capazes de criar um novo rumo para nós. Se os candidatos, especialmente à Presidência, apresentarem propostas para mudar o rumo do Brasil, teremos um ingrediente de bom ano novo.

Um debate fundamental deve ser como construir uma democracia-ética no comportamento dos políticos e nas prioridades das políticas. Como acabar com a corrupção e a impunidade e como elaborar orçamentos públicos comprometidos com os interesses comuns da população de hoje e da futura Nação.

Não pode faltar no debate a busca de crescimento equilibrado com o meio ambiente. Não basta crescer, é preciso definir quais produtos serão priorizados e com quais recursos naturais – não apenas financeiros – serão produzidos.

As formas de superar a persistência secular da pobreza em nosso país e de como reduzir a desigualdade social devem ser debatidas. Se a proposta é continuar esperando que os resultados do crescimento econômico se espalhem ou se o caminho seria uma revolução que assegure igualdade educacional para todas as crianças, independentemente da renda dos pais.

Outra bandeira fundamental a ser debatida é como reorientar o velho modelo de produção baseado na indústria mecânica para uma nova economia, com produtos produzidos pelo capital-conhecimento, originados da ciência, tecnologia e, portanto, da educação de base universal com qualidade. Isso implica o debate sobre qual a base do desenvolvimento futuro do Brasil: o capital financeiro ou a educação, a ciência, a tecnologia e a cultura.

Será necessário debater como conquistar a paz nas ruas: cercar as casas com muros e construir cadeias ou fazer pontes entre as diversas partes da sociedade.

A escolha entre a eficiência dos serviços públicos ou o aumento na oferta de bens privados é um debate que a população precisa fazer antes de escolher o seu candidato – ou candidata – à presidência da República.

Aparentemente, não há vontade para fazer esse debate. A mídia não se interessa; os eleitores, ainda menos, os intelectuais estão alheios; os partidos, perdidos, e os candidatos não querem correr riscos. A campanha, parece, será feita com base nos shows de marketing e não na consistência das ideias.

Por isso, um Bom e Feliz Debate é o que podemos desejar, em 2010, para o nosso país.

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Cristovam Buarque é professor da Universidade de Brasília e senador pelo PDT/DF.

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