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"Graças a ela [a fé] é que, apesar de sua morte, ele ainda fala", diz a carta aos Hebreus (11,4) sobre Abel. O mesmo poderíamos dizer do arcebispo dom Jaime Luiz Coelho. A Arquidiocese de Maringá comoveu-se profundamente com a morte de seu primeiro bispo e arcebispo, em 5 de agosto. Curitiba não poderia ficar indiferente, pois dom Jaime está ligado à capital por vínculos profundos.

O primeiro deles passa por dom Alberto José Gonçalves, natural de Palmeira (PR) e pároco em Curitiba, devendo-se a ele o término da catedral, abençoando-a em 8 de setembro de 1893. Em 1908, ele foi nomeado como o primeiro bispo de Ribeirão Preto (SP), em cujo território ficava Franca, a cidade onde nasceu dom Jaime, em 26 de julho de 1916. Dom Alberto, o primeiro bispo paranaense a ser ordenado, em 2 de fevereiro de 1909, deixou, em seu testamento, seu anel ao então padre Jaime.

O segundo vínculo é com dom Manuel da Silveira d’Elboux, que era auxiliar de dom Alberto Gonçalves em Ribeirão Preto desde 1940; em 1946, tornou-se seu sucessor e, em 1950, foi nomeado arcebispo de Curitiba. Como dom Alberto estava enfraquecido, aos 82 anos, foi dom Manuel quem celebrou a ordenação sacerdotal do jovem Jaime Coelho, em 7 de dezembro de 1941. Os seus caminhos voltariam a se encontrar quando dom Jaime foi eleito bispo de Maringá, em 1956. A nova Diocese de Maringá era sufragânea da Arquidiocese de Curitiba, onde já estava dom Manuel – que, aliás, também participou da ordenação episcopal de dom Jaime, em janeiro de 1957. Era fortíssima a amizade e a veneração de dom Jaime por dom Manuel.

E o terceiro vínculo é comigo mesmo. Como sinal de forte amizade, dom Jaime me convidou para participar da primeira ordenação sacerdotal da nova Diocese de Maringá, o cônego Benedito Vieira Telles, em 29 de junho de 1960. Em 1966, quando soube que eu seria nomeado bispo auxiliar de Curitiba, ofereceu-me o camafeu para o anel episcopal.

Anos depois, o então núncio apostólico no Brasil, dom Carmine Rocco, propôs a criação da Arquidiocese de Cascavel, cuja província eclesiástica teria também as dioceses de Foz do Iguaçu, Toledo, Campo Mourão e Umuarama, do território da extinta Prelazia de Foz do Iguaçu. Consultado, propus também a criação da Arquidiocese de Maringá, um polo importante do Noroeste do estado. O núncio logo aderiu à ideia e, em 18 de setembro de 1978, em uma assembleia com todos os bispos do Paraná, anunciou a criação de duas novas províncias eclesiásticas em nosso estado: Cascavel e Maringá, surpreendendo todos os bispos, que a aprovaram. A província maringaense também incluía as dioceses de Paranavaí, Campo Mourão e Umuarama; a de Cascavel ficou com as dioceses de Foz do Iguaçu, Toledo e Palmas-Francisco Beltrão. Em sinal de reconhecimento, dom Jaime, no dia da recepção do pálio (uma veste litúrgica própria dos arcebispos metropolitanos), quis que eu fosse o pregador e lhe impusesse o pálio em 7 de novembro de 1982 – naquela época, ainda não havia a cerimônia em que os novos arcebispos recebem o pálio das mãos do papa.

Uma última prova de amizade da parte de dom Jaime era convidar-me para seu aniversário. Na última vez em que estive com ele, passamos quatro dias juntos no fim de maio e no início de junho.

Dom Jaime foi muito dinâmico. Idealizou, com ousadia e coragem, a artística Catedral de Maringá, com 124 metros de altura, considerada a 14ª mais alta do mundo. Construiu três seminários (Menor, Propedêutico e Filosófico); ordenou 51 sacerdotes; criou 41 paróquias; fundou 18 colégios católicos; participou da criação da Faculdade de Ciências Econômicas (sendo seu primeiro reitor); realizou 1.078 visitas pastorais a 2.030 matrizes e capelas; construiu a Cúria Diocesana, a residência arquiepiscopal e o Centro de Pastoral; fundou muitas pastorais e movimentos; deu forte apoio aos meios de comunicação, a rádios e jornais, e à TV 3º Milênio; apoiou muitíssimas obras sociais, sindicatos, creches, asilos, a Santa Casa de Misericórdia e a Pastoral Nipo-Brasileira; e esteve envolvido na criação da Diocese de Paranavaí. Enfim, foi um arcebispo que participou ativamente no desenvolvimento de Maringá e do Noroeste paranaense.

Dom Jaime Coelho ficará sempre na memória como o arcebispo que, morto, falará: Defunctus adhuc loquitur.

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