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A corrupção está em todos os degraus da sociedade, disfarçada de jeitinho brasileiro. É pitoresco e exportado como característica nacional, inclusive

O povo brasileiro é estranho. Vemos todos os dias nos jornais as mazelas do país: criminalidade, corrupção, drogas, falta de saneamento básico, de educação, de serviços de saúde, de segurança, de fiscalização no trânsito... e ainda assim, o povo parece não querer mudar nada.

As pesquisas eleitorais dão como certa a vitória de Dilma Rousseff já no primeiro turno. Isso não é mérito dela, obviamente. É a força de um personagem criado por um presidente popular. E a falta de um adversário à altura. Não estou falando de competência, mas de carisma. Serra não tem o apelo popular que Lula tem. Por isso não ganha.

De dois em dois anos somos obrigados a escolher nossos candidatos. E concordo com a obrigatoriedade do voto, acho que sem ela o povo ia ficar em casa bebendo e só quem fosse pago para isso iria votar. Não, não acredito na lei seca, nem que somente quem entende do assunto iria votar. Já passei dos 10 anos.

Nunca vou esquecer de uma propaganda que vi uma vez do programa Casseta & Planeta, em que um dos humoristas do programa entrevistava as pessoas na rua e perguntava: "Você é corrupto?" Ao que a pessoa respondia: "Não". Então o repórter perguntava: "E se eu te der R$ 100, você muda de ideia?" A pergunta ficava no ar, mas a expressão do entrevistado já nos dava a resposta... esse é o perfil do brasileiro. A corrupção está em todos os degraus da sociedade, disfarçada de jeitinho brasileiro. É pitoresco e exportado como característica nacional, inclusive.

O fato é que há muito tempo deixamos de acreditar nos políticos. Sabemos que todas as suas promessas são apenas conversa fiada para convencer a gente de que eles valem a pena. Sou daqueles que acredita que todo político desvia dinheiro. Rouba, em bom português. Já ouvimos tantas histórias de gente que era "honesta" e depois de eleita foi obrigada a entrar no esquema (honesta?). É muito simples: o sonho de praticamente todo brasileiro é ser funcionário público. Por quê? Garantia de estabilidade, salário bom e falta da necessidade de trabalhar. Todas as vezes que precisei de órgão público fui mal atendido, a burocracia era imensa e os prazos arrastados. Todas.

Então, quer cargo público melhor que vereador (salário de R$ 9 mil em São Paulo), deputado (federal, salário de R$ 12 mil mais verbas de R$ 50 mil mensais), senador (R$ 12 mil), prefeito (R$ 26 mil em Curitiba)? Não precisa fazer nada, só conseguir ser eleito. Depois: nada. Ah, sim, cuidar para esconder bem os desvios de verba e falcatruas.

Já chegamos à conclusão de que o melhor é votar em quem "rouba, mas faz". Vamos escolher o menos pior e ver para o bolso de quem vai nosso dinheiro.

Os impostos no Brasil são altíssimos. Recente reportagem do Jornal Nacional mostrou que 64% de nossa renda mensal vai para impostos. Já cheguei a pagar 20% do faturamento da empresa em imposto. E isso no primeiro ano. Não me admira que muitas pequenas empresas não ultrapassem esse primeiro ano de vida.

A solução? Não sei. Não acredito numa solução. Para se mudar alguma coisa, leis precisariam ser aprovadas. E quem aprova as leis? Justamente: os políticos. E eles são espertos o bastante para não aprovarem nada contra si mesmos. Talvez se um dia surgisse uma lei popular, aprovada pelo William Bonner, de que ninguém que já tivesse sido eleito, ou que tivesse parentesco ou ligação direta com qualquer político pudesse ser eleito. Talvez aí mudasse alguma coisa.

Flávio St Jayme é microempresário em Curitiba, sócio-proprietário da Clockwork Comunicação.

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