O mais notável imperador romano, Júlio César, ao se divorciar da segunda esposa Pompeia, no calor da suspeita de que esta pudesse ter permitido a entrada de um ousado mancebo na festa de Bona Dea, exclusiva para mulheres, cunhou o histórico provérbio: “À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta”.

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Creio e compartilho com a maioria da população a crença de que a ex-presidente Dilma Vana Roussef jamais embolsou um único Real do erário público de forma ilícita. Diferentemente de Pompeia – que não se deitou com outro –, por força do contexto e por ser encarada como uma pessoa mais facilmente manipulável, deve ter ouvido, não de um marido, mas do amigo e mentor, Luiz Inácio, uma admoestação bastante diferente ao ser progressivamente entranhada, como PDTista, na ala famigerada do comando PTista. “Se você prefere, continue a ser pessoalmente honesta, mas me ajude a ocultar dos olhos da Justiça o enriquecimento de nossos companheiros”.

O momento é propício para se colocar em prática o que o Jânio Quadros tentou com sua chapliniana vassoura

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Dilma teve berço e história completamente diferentes de Lula. Encantava-lhe uma certa convicção ideológica dissonante do tradicional mando das elites brasileiras. Lula, pobre, inculto, mas esperto e ambicioso, acabou por se render, irremediavelmente, ao deslumbramento do poder, conforto, péssimas companhias e captura do dinheiro público e fácil. Bom companheiro, delegou ao companheiro Zé Dirceu, o comando total da distribuição de cargos e escalação do time ordenador de despesas e desvios. Bom pai, fechou os olhos ao enriquecimento exponencial dos filhos. Para estes objetivos escusos arruinou a economia nacional e destroçou nossa mais potente empresa, a Petrobras, pois ali vicejava o dinheiro mais fácil de ser embolsado pela numerosa quadrilha.

O indigesto processo de impeachment da ex-presidente foi um tedioso e doloroso acerto de contas no qual os condottieri políticos são – estes sim – os alvos reais de vários processos por concussão, peculato e formação de quadrilha. Até aos olhos da Justiça o alvo final não são apenas os 40 maiores ladrões, mas sim o rouco e verborrágico Ali Babá do ABC, traidor da confiança dos pobres. Votos então de que Moro, Dallagnol e equipes da PF e MPF superem Elliot Ness na criatividade de colocar atrás das grades Al Capone, não pelos crimes cruentos, mas pelo leve lapso de não compartir com o fisco e receita aquela modesta parcela de impostos sobre os ganhos milionários e desonestos.

Lula, o antes intrépido deputado federal, denunciava a existência de “uns 300 picaretas” no Congresso Nacional, um enigma indigesto à população votante. Se a soma é 513 Deputados Federais e 81 Senadores, (300 / 594 = 50,5%) e se evolução ou involução não houve nesta estatística sofrível, metade deveria ser e parecer honesta. Provavelmente hoje em dia até mais, se levando em conta os placares pró-impeachment na Câmara e no Senado. Ultrapassado o corrente tsunami de caça à bruxa e aos bruxos, uma pergunta se impõe: como sucessivamente a maioria dos dois plenários elegem, em voto secreto ou aberto, as piores escolhas do quilate político Sarney, Calheiros e Cunha?

Tudo somado haveria que se ter em conta: A) Dilma, pecuniariamente honesta, não se elegeu sozinha; cada pedalada fiscal tal qual no caso da bicicleta multi-assentos da refinaria de Pasadena, tinha vários pedaladores embalando o País para o precipício financeiro; B) Um devido “fora” com as desculpas esfarrapadas de que mudanças na Constituição Federal são dificultosas senão impraticáveis no atual contexto, se o objetivo saneador impositivo são novas eleições presidenciais ou quaisquer outras medidas alternativas pra se endireitar o Brasil de todos e não destes poucos.

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O momento é propício para se colocar em prática o que o Jânio Quadros tentou com sua chapliniana vassoura: varrer para trás das grades esta cambada toda de meliantes, sejam políticos, diretores ordenadores de despesas, empresários comparsas e lobistas intermediários. Ainda melhor, capturar e restituir aos cofres públicos cada Real surrupiado, a ser então gasto em Educação, Saúde e Segurança Pública. É isto que o povo espera do Supremo Tribunal Federal, Ministério Público Federal, Justiça Federal e Polícia Federal. Ah! E do empossado Presidente Michel Temer também.

José Domingos Fontana é professor visitante na UTFPR-Ecoville.