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Com 27 pacotes ou minipacotes econômicos, a presidente Dilma tem agido como equilibrista na crise econômica do presente, não como estadista para fazer o Brasil estar em sintonia com a economia global do futuro. Os pacotes são corretas ações pontuais, com a redução de custos de produção, aumento da venda por redução de impostos e associação com o capital privado para superar a obsolescência da infraestrutura, mas pouco ou nada tem sido feito para transformar o Brasil em uma nação inovadora.

Ser equilibrista no curto prazo é reduzir o custo Brasil por meio de isenções fiscais ou desonerações na folha de pagamento. Ser estadista é construir uma economia com alta competitividade, graças à inovação científica e tecnológica. Equilibrista é aumentar a taxa de crescimento do PIB, estadista é mudar o PIB. Os pacotes editados desde 2011 podem recuperar parte do espaço perdido no made in Brazil, mas não darão o salto para o created in Brazil.

Vender mais carros no meio da crise mundial é um ato de equilibrista; ato de estadista seria criar centros de pesquisa e de produção voltados para o transporte de massas. Seria fazer a revolução na educação básica, aliada a uma grande refundação do sistema universitário brasileiro, em colaboração com o setor privado e por meio da criação de um sistema nacional de conhecimento e da inovação, que permita ao Brasil passar a concorrer em condições de igualdade com os países líderes em ciência e tecnologia.

Está provado que o principal fator para o avanço da baixa para a média renda foi a educação. A educação é também o fator para que o avanço dessas pessoas continue no caminho para a classe mais alta. A maior parte da classe média tem cerca de oito anos de estudo. Na classe alta, esse número sobe para 12 anos.

Ser equilibrista é conseguir recursos para aumentar o número de famílias com Bolsa Família; ser estadista é criar as bases para que todas as famílias tenham condições de obter suas próprias rendas, sem necessidade de bolsas, graças a um modelo econômico intrinsecamente distributivo e a uma educação de qualidade para todos, com a federalização da educação de base, a criação de um Ministério da Educação de Base e de uma carreira nacional do magistério público.

Há meses arrastamos um debate sobre o Código Florestal tentando atender agronegócio e conservacionistas, sem um gesto estadista de mudança de rumo em direção a um novo modelo econômico com desenvolvimento sustentável.

Explorar o pré-sal é trabalho de um gestor equilibrista; um estadista prepararia o Brasil para a economia pós-petróleo. Ser equilibrista é construir viadutos para mais carros; ser estadista é reorganizar as cidades a fim de torná-las pacíficas e humanizadas.

Com seus pacotes, a presidente Dilma tem acertado como equilibrista, olhando onde colocar os pés em uma corda bamba suspensa. A qualquer momento, se um vento do Norte balançar a corda, o equilíbrio se desfaz, como se desfez em tantos países nos últimos anos. Mas ela erra como estadista por não estar acenando e liderando o país para uma inflexão histórica no longo prazo: transformar o Brasil em uma sociedade moderna e com competitividade científica e tecnológica, com um modelo de crescimento estruturalmente distributivo e em equilíbrio com o meio ambiente.

O Brasil elegeu Dilma esperando uma estadista para o futuro, mas ela está errando ao optar por ser apenas a equilibrista do presente.

Cristovam Buarque, professor da UnB, é senador pelo PDT-DF.

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