Se 2014 promete ser febricitante na política interna, espere só para ver o que será o ano na política externa. Para além dos conflitos comerciais que se anunciam, há em perspectiva toda uma avalanche de problemas a demandar crescente atuação do Brasil, com respostas incontinentes do Itamaraty. Foi o que ocorreu na recente reação ao escândalo de espionagem americana que vazou ao mundo. No episódio, a par da cômica infidelidade da arapongagem de lá, também ficou patente que a resposta brasileira foi a que todos gostariam de ter feito e dito aos Estados Unidos – inclusive o Reino Unido, aliado incondicional e versado sempre na complacência sem limites, mas também espionado.

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São atuações como essa, aliadas à maior participação em distintos organismos, a par de criação de novas embaixadas sem intenção mercantil, como na África, que nos distinguem positivamente. Mantendo relações diplomáticas com todos os países do mundo, o que é raro, o Brasil vai assumindo, assim, posição de interlocutor privilegiado e mediador eficaz, a independer de latitudes e de longitudes.

No plano regional, a recente mudança de atitude do Brasil o faz mais presente entre vizinhos, em contraste com seu tradicional isolamento e mesmo indiferença. Por certo, como traço herdado da diplomacia portuguesa, convicta de que "de Espanha nem bons ventos nem bons casamentos", o Brasil foi do Império à República ausente contumaz em seu próprio meio. Aislado pelo particularismo lusitano de língua e de cultura, mais ainda pela caprichosa geografia de distâncias platinas e amazônicas, o país cresceu atlântico e litorâneo, o que decerto levou o poeta e diplomata João Cabral de Melo Neto a cunhar a expressão "vizinhos invizinhos", em alusão à ambiência que prevaleceu ao largo de nossa história.

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Na realidade continental permeada por desafetos profundos, condenados ao convívio eterno de fronteiras consolidadas, a novidade é a recente proposta de fabuloso bloco transpacífico, da América à Ásia, que tanto seduz aos desavisados de sempre. Com ela, ressurge a velha e falida ideia de ser possível comprar a paz pelo comércio. Sem falsos entusiasmos, seria apropriado ouvir o que mexicanos têm a dizer sobre essa sempre tão amável e recorrente intenção.

Jorge Fontoura, doutor em Direito Internacional, é professor do Instituto Rio Branco e membro permanente do Tribunal do Mercosul.

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