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O Concílio Vaticano II foi, sem dúvida, o evento de maior impacto na Igreja Católica no século 20. Estamos comemorando seu cinquentenário e, nessa perspectiva, podemos afirmar que o Concílio lançou as bases para uma renovada presença da Igreja no mundo e que ainda estamos neste processo de renovação, dentro do qual se situa o pontificado do papa Francisco, que em 16 de abril de 2013 disse que ainda "não se cumpriu tudo o que o Espírito Santo pediu no Vaticano II". Nesse contexto situamos sua iniciativa de canonizar conjuntamente os papas João XXIII e João Paulo II. Ambos passarão à história inseparavelmente unidos ao Concílio.

João XXIII tem o mérito de sua convocação. Um gesto ousado que surpreendeu o mundo, em 25 de janeiro de 1959. Este papa só presidiu sua primeira sessão; foi seu sucessor, Paulo VI, o encarregado de continuar e encerrar o Concílio, aprovando com sua assinatura todos os documentos. Por isso o Concílio às vezes é apelidado de "o Concílio de João e Paulo" – precisamente os dois nomes que continuaram associados à cátedra de Pedro nos dois pontificados seguintes. Foi João Paulo II, depois do breve reinado de João Paulo I, quem se propôs como tarefa a aplicação do Concílio como modo mais eficaz de conduzir a Igreja ao terceiro milênio.

Karol Wojtyla tinha sido um dos bispos mais jovens a participar do Vaticano II e é conhecida sua importante contribuição na elaboração da constituição Gaudium et Spes, sobre a Igreja no mundo atual, e do decreto Dignitatis Humanae, sobre a liberdade religiosa. Nos 20 anos do encerramento do Concílio, em 1985, João Paulo II convocou um Sínodo Extraordinário para avaliar e impulsionar a aplicação prática do Vaticano II. Para muitos, esse foi um momento importante de tomada de consciência sobre uma adequada hermenêutica do Concílio, hermenêutica que, anos depois, o papa Ratzinger cristalizou na fórmula "reforma na continuidade". Um bom exemplo dessa consciência é a figura do teólogo e bispo espanhol Fernando Sebastián Aguilar, que o papa Francisco fez cardeal no último consistório.

No ano 2000, diante do início de um novo milênio, João Paulo II voltava de novo o olhar ao Vaticano II e dizia: "Uma nova época se abre diante de nossos olhos: é o tempo de aprofundar os ensinamentos conciliares. O Concílio Ecumênico Vaticano II foi e continuará sendo uma verdadeira profecia para a vida da Igreja".

Por ocasião da canonização de João XXIII e João Paulo II, é interessante recordar as palavras com que aquele abria a grande assembleia: "O Concílio, que agora começa, surge na Igreja como dia que promete a luz mais brilhante. Estamos apenas na aurora: mas já o primeiro anúncio do dia que nasce de quanta suavidade não enche o nosso coração! Aqui tudo respira santidade, tudo leva a exultar!" E também as palavras com que, 39 anos depois, na Novo Millenio Ineunte, João Paulo II recordava que um dos principais ensinamentos do Concílio era a chamada universal à santidade: "Como explicou o Concílio, este ideal de perfeição não deve ser objeto de equívoco vendo nele um caminho extraordinário, percorrível apenas por algum ‘gênio’ da santidade. Os caminhos da santidade são variados e apropriados à vocação de cada um. Agradeço ao Senhor por me ter concedido, nestes anos, beatificar e canonizar muitos cristãos, entre os quais numerosos leigos que se santificaram nas condições ordinárias da vida. É hora de propor de novo a todos, com convicção, esta ‘medida alta’ da vida cristã ordinária: toda a vida da comunidade eclesial e das famílias cristãs deve apontar nesta direção."

O papa Francisco, com estas duas canonizações, quer seguir impulsionando, na direção seguida pelos dois novos santos, a aplicação de um Concílio chamado a continuar renovando a Igreja e o mundo.

Federico M. Requena, sacerdote, é professor de História da Igreja na Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma. Tradução: Marcio Antonio Campos

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