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“Como tem bicicleta pelas ruas, cada vez mais! Isso engrenou mesmo na cidade. É bom pra saúde e bom para o trânsito.” O comentário, de um motorista de táxi que peguei dias atrás, reflete a percepção de um movimento de mudança que está em curso em Curitiba e que vem trazendo muitos benefícios para a cidade.

Estudos comprovam que estimular o uso da bicicleta é uma das formas mais baratas e eficazes de melhorar o trânsito – lembrando que trânsito não é apenas o fluxo de carros, ônibus e caminhões, mas envolve também os pedestres e ciclistas. Incrementar as condições das caminhadas e das pedaladas e, paralelamente, melhorar a qualidade do transporte coletivo são ações que encontram respaldo na Lei 12.587/2012, que instituiu a Política Nacional de Mobilidade Urbana. Felizmente, as cidades brasileiras estão despertando para este tema.

Pedalar em Curitiba não é um bicho de sete cabeças. É viável, desejável e, acima de tudo, prazeroso

A questão é complexa, pois não se trata apenas de criar uma nova tipologia de infraestrutura. É necessário recriar ou restabelecer valores, práticas e hábitos que por muito tempo esquecemos ou desprezamos. Caminhar, nem que seja para comprar pão na esquina, é visto por muitos como um ato indigno. Pedalar esteve por muito tempo associado ao lazer ou ao lúdico. E o carro, nesse meio tempo, reinou absoluto.

Reverter esse paradigma e criar condições para o conforto e a segurança de um número cada vez maior de ciclistas, almejando junto com isso o conceito de morte zero no trânsito, é meta ambiciosa que necessita dos esforços coletivos do poder público, entidades, empresas e sociedade civil como um todo.

Em Curitiba, a inclusão da ciclomobilidade na agenda oficial do município aponta para um momento muito favorável à convergência entre esses segmentos. Da parte da prefeitura, há um inegável empenho para avançar. Hoje, a cidade tem 73 quilômetros a mais de vias cicláveis do que tinha em 2013. Paraciclos estão sendo instalados nos terminais de ônibus e em vários pontos da região central. Projetos nas vias estruturais preveem o caminho das bicicletas, a exemplo do que foi feito na Avenida Sete de Setembro e concluído na Avenida Marechal Floriano, conectando Curitiba e São José dos Pinhais.

Isso, contudo, não é e não pode ser tudo. É preciso mudar comportamentos. As tragédias do trânsito não devem nos imobilizar no medo, no ódio ou no rancor. Precisamos transformar toda a energia negativa em ações positivas. Afinal de contas, nós somos o trânsito. Se o fizemos deste jeito, tão hostil e violento, está em nossas mãos virar esse jogo.

Pedalar em Curitiba não é um bicho de sete cabeças. É viável, desejável e, acima de tudo, prazeroso. Dá pra escolher os melhores horários. Às vezes, sair 15 minutos antes ou depois pode fazer a diferença. Encontrar as suas rotas, estar afinado com sua bicicleta, ocupar o seu espaço com prudência, sinalizar suas intenções e não transferir a mesma pressa dos motorizados para os pedais são práticas boas para um pedal defensivo. Não custa nada esperar alguns segundos para o sinal abrir. Não custa nada respeitar os pedestres, não transitar pela calçada. Não custa nada transbordar um pouco de gentileza...

Ainda há motoristas que desrespeitam os ciclistas? Sim! – assim como há ciclistas fechados em suas bolhas individuais, com fones de ouvido, alheios ao espaço comum compartilhado, a cidade.

Precisamos de um pacto coletivo pela melhoria das condições de segurança no trânsito. Os responsáveis por este pacto seremos todos nós, gestores e cidadãos. É um longo caminho a percorrer, mas é pra frente que se pedala!

Jorge Brand (Goura Nataraj) é mestre em Filosofia pela UFPR e assessor na Coordenação de Mobilidade Urbana da Setran.
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