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Meninas de um lado e meninos de outro. Esse foi o título de uma matéria publicada neste jornal no mês passado e que chamou a atenção de educadores sobre o ensino e as metodologias existentes, tanto no nosso país como no mundo.

Em Portugal, a famosa Escola da Ponte (pública) é referencial para muitas outras pelo seu estilo despojado de regras. Lá, meninos e meninas de várias idades são educados com uma metodologia que respeita as suas individualidades. E, entre várias outras diferenças, ali não há séries, salas de aula e não se passa de ano por provas, mas a qualquer tempo quando os alunos, que possuem características e tempos de aprendizados distintos, demonstram domínio dos conteúdos.

À época em que foi fundada, nos anos 70, a ideia da metodologia foi combatida. Renomados professores a consideraram como projeto sectário, elaborado por correligionários. Hoje, o que vimos são crianças educadas, felizes e orgulhosas da escola. Meninos e meninas que conhecem seus direitos e deveres, e que convivem muito bem neste ambiente de estudo, elas com seu grupo de amigas e eles com o de rapazes.

Se voltarmos alguns anos, este comportamento distinto no nosso país era muito comum nas escolas até os idos de 1968, antes de serem extintas, seguindo modismo, pelo governo militar. Até essa época existiam instituições com programa pedagógico semelhante à educação diferenciada e não por isso as pessoas tinham dificuldades ou problemas em se adaptar à sociedade. Hoje, o Colégio São Bento é uma feliz exceção a esta mudança e, curiosamente, o Enem a tem como a melhor escola do país.

Ontem, como hoje, não se perdia tempo olhando para as meninas e vice-versa, simplesmente se brinca. Os amigos muitas vezes sequer são da escola, com exceção de um ou outro. A turma se formava nas praças, ruas e praias, assim como acontece hoje nos condomínios, shoppings e cinemas, comprovando que a escola não exerce tanto poder na formação das amizades nem na convivência, podendo até ocorrer o contrário, quando os mais fortes subjugam os mais fracos submetendo-as à violência, às drogas e à precocidade sexual. Será isso a propalada reprodução do ambiente da sociedade nas escolas?

Aliás, o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) revela que 74,8% dos alunos da rede privada e 97,2% da pública posicionam-se abaixo do índice governamental na língua portuguesa, piorando ainda mais na matemática. A média é de 4,2 sobre 10. Em 2006, o Brasil ocupou as últimas posições entre 57 nações em todos os critérios e o Instituto de Estudos e Orientação da Família (Inef) apurou que 72% dos brasileiros, entre 15 a 64 anos, são "analfabetos funcionais".

Ora, o sistema de educação diferenciada não é novo nem é importado de outros países, mas vítima de uma exceção política. Os exemplos, no Brasil e no mundo, mostram sua eficiência e, ademais, lembremo-nos que a escolha da escola é uma função exclusiva dos pais, não só por justiça, mas por serem esses os prejudicados em caso de insucesso, pois diferentemente da sociedade, na família, a pessoa é aceita pelo que é; não pelo que produz, pois que o ônus sobre ela recai.

Há de se louvar a iniciativa da instituição referida na matéria, chamada Escola do Bosque e Mananciais, que mostra civismo ao trazer para Curitiba mais uma opção de ensino, entre as várias já existentes. A cidade só tem a ganhar.

Sávio Ferreira de Souza, professor, advogado, empresário, é orientador familiar.

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