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A maior empresa de táxi do planeta, a Uber, não tem nenhum carro na frota. O Facebook, grande provedor de conteúdo, não produz nenhuma informação. O maior ofertante de acomodações do planeta, AirBNB, não dispõe de quarto de hotel. A gigantesca rede varejista Alibaba não tem nada no estoque. As maiores agências de notícias não têm nenhum jornal. Mesmo assim, mentes ingênuas imaginam que a educação passará ilesa por essa revolução e aceitamos, iludidos, que as transformações nessa área serão passageiras e superficiais. Ledo engano: as mudanças na educação e nas instituições educacionais serão rápidas, profundas e drásticas.

As universidades mudaram muito pouco nas últimas décadas, mas as tendências são claras

O comércio eletrônico é uma realidade em todos os países, mas é particularmente interessante observar a China, epicentro desta revolução. As impressionantes vendas online chinesas, da ordem de US$ 620 bilhões por ano, já são superiores à soma das respectivas vendas americanas (US$ 380 bilhões) e europeias (US$ 228 bilhões). A China representa um potencial ativo de compras on-line – especialmente via celular – provenientes de mais de meio bilhão de entusiasmados usuários. Estamos falando de produtos e serviços, muito além de equipamentos; e incluindo, cada vez mais, desde alimentos a conteúdos educacionais.

As universidades mudaram muito pouco nas últimas décadas, seja na China ou no Brasil, mas as tendências são claras, tanto em termos de missões como de produtos e serviços ofertados. O processo ensino-aprendizagem permanece, e assim será sempre o núcleo central da missão universitária, mas os educandos e os educadores já não serão os mesmos, bem como seus entornos. A revolução digital não é meia revolução. Ela é arrasadora e, ainda que chegue mais tarde em alguns setores, não quer dizer que chegará mais suave.

Há uma função cartorial da universidade, a de atestar conhecimentos e competências; curiosamente, ela deverá não só permanecer, mas também ser significativamente ampliada. Hoje, as instituições educacionais praticamente só certificam seus próprios alunos, sobreviventes de maratonas de salas de aulas, presenciais ou virtuais, e de provas espalhadas ao longo do tempo, em geral na escala de muitos anos. No futuro breve, as oportunidades de obter uma certificação – seja de disciplinas, cursos ou mesmo de profissões – passarão a ser, opcionalmente para o estudante, questão de dias, o que não implica em ser mais fácil. O valor do título será proporcional ao nível de exigência, associado à marca de quem o confere, ou seja, fruto do reconhecimento social da instituição que assina o atestado.

Interessante observar que a credibilidade da marca será cada vez menos fruto do investimento em campanhas publicitárias tradicionais, mas o resultado líquido da indicação e reconhecimento coletivo dos usuários, diretos e indiretos, desse processo de certificação, espaço no qual as opiniões de amigos e conhecidos nas redes sociais têm papel crucial e definitivo.

Enfim, neste universo digital de docentes assemelhados a designers educacionais e de estudantes permanentes ao longo da vida, as escolas serão basicamente provedoras de conteúdos educacionais múltiplos. E ao fazê-lo com qualidade, resultado da capacidade de suas equipes, se legitimam para os processos de certificação de competências, tendo tais conhecimentos associados sido adquiridos dentro ou fora da instituição.

Ronaldo Mota é reitor da Universidade Estácio de Sá e diretor-executivo de Educação a Distância da Estácio.
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