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Vivemos um momento histórico muito importante e ao mesmo tempo muito complicado. Nunca na história da humanidade tivemos tanto acesso à informação e ao conhecimento como agora. Para ficarmos apenas num exemplo, há 50 anos, para termos acesso a carne de frango, a maioria das pessoas precisava preparar a terra, plantar o milho, criar o frango para depois comer a carne. Atual­­mente, basta ir ao mercado.

A educação há 50 anos era mais ou menos parecida com a atual, pelo menos na parte formal. Todos os alunos deveriam ir à escola, estudar, fazer provas, passar de ano e assim, continuava o ciclo. Ocorre que nos últimos anos, com o maior acesso a in­­formação, a educação passou a ser confundida com escola que deve ser apenas a parte formal da educação. A sociedade na ânsia de dar aos filhos tudo o que não teve delegou à escola toda a educação, inclusive a parte que cabe à família, como valores, respeito e limites. Assim, formou algumas gerações que confundem viver com consumir, viver com adultos a seu dispor.

O sistema trabalha no mesmo sentido, com a seguinte vi­­são: o aluno tem o direito de passar de ano, se não passa, a cul­­pa é da professora, da escola, do governo. Mas, com o passar do tempo, a família percebe que não deu conta, que seu filho não aprendeu o necessário para continuar os estudos, que seu filho não tem hábito de estudar, não respeita os pais, os mais velhos, ou seja, tem muita dificuldade para viver em socieda­­de. O governo percebe que 50% das crianças de 10 anos não es­­tá alfabetizada. E aí começam as formulas mágicas, os aligei­­ramentos, as provas, e o mais nobre exemplo, o Enem, uma avaliação que deveria servir de parâmetro para avaliar a educação básica, para definir os caminhos para melhoria da mais importante etapa da escola de uma sociedade, foi transformada em fórmula mágica para entrar na universidade pública, para certificar concluintes do ensino médio que não cursaram, para "ranquear" e comparar as escolas.

O Enem é um bom exemplo da educação fast e diz mais ou menos assim: não importa se você estudou, se tem conhecimento. A prova do ministro vai avaliar, se você responder a pergunta que o ministro quer, o MEC coloca você na faculdade. E o conhecimento? Bem, pouco importa. A prova e a maneira da formulação das questões conseguem, num passe de mágica, separar o bom estudante do ruim.

Para resolver o problema da não-alfabetização, importamos um modelo que funciona bem em Cuba, e não importa se você não aprendeu até os 14 anos a ler e escrever, basta usar o método infalível cubano que resolvemos o problema. Condizentes, as famílias, ao perceber que não deram conta da educação de seus filhos, procuram fórmulas mágicas, escolas com métodos rápidos, que ensinam e preparam para passar no vestibular ou no Enem, pois, se entrar na universidade, está tudo resolvido.

A sociedade não percebe ou não quer perceber que o fato de entrar na universidade nada quer dizer, não entende por que 40% dos alunos abandonam a universidade. A sociedade precisa perceber e aceitar o seu papel de orientar os jovens, que muitas vezes vai contra as facilidades do sistema.

Ademar Pereira Batista é presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe-PR)

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