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Nas últimas semanas fui surpreendido positivamente com a notícia de projetos de lei de duas parlamentares que propõem a inclusão da vacina de prevenção ao câncer do colo de útero na rede pública de saúde. É extremamente gratificante perceber que finalmente chegou ao debate público uma doença que mata aproximadamente 230 mil mulheres por ano em todo o mundo, das quais 80% ocorrem em países em desenvolvimento como o Brasil. A senadora Ideli Salvatti (PT–SC) e a deputada federal Vanessa Graziottin (PCdoB–AM) oportunamente levantaram uma bandeira a favor das mulheres e, com isso, contribuem para que a prevenção, por meio de vacinas, e não somente por exames, seja uma preocupação constante entre as mulheres. A colaboração dos relatores Patrícia Saboya (PSB – CE) e Alceni Guerra (DEM – PR) é ainda um dado essencial nesse processo.

No Brasil, os números são alarmantes. Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), no ano passado ocorreram no país mais de 19 mil casos de câncer de colo uterino, cuja letalidade está em torno de 50%, ou seja, o número de mortes por câncer desse tipo ficou em torno de 10 mil. Em resumo, estima-se que o câncer de colo de útero mate cerca de 30 brasileiras por dia. Por tudo isso, é válido que o assunto esteja em pauta no Congresso Nacional. No entanto, ao sugerir que a rede pública ofereça gratuitamente a vacina para a população, é importante que as parlamentares estejam atentas em incluir entre o público beneficiado o maior número possível de mulheres.

Hoje apenas um laboratório comercializa a vacina no Brasil. Até o segundo semestre deste ano, teremos mais uma opção visto que uma nova vacina está prestes a ser licenciada. Não cabe aqui uma análise qualitativa de cada vacina, mas acredito que seja de extrema importância que o Congresso aprove uma lei que contemple a prevenção da infecção pelo HPV. A chegada de uma nova vacina ao mercado de prevenção do câncer do colo de útero trará preços mais competitivos e a possibilidade de maior cobertura vacinal.

Ao adotar uma das vacinas, o governo levará em conta que tipo de preocupação tem com a população: caso sejam as verrugas genitais e o câncer de colo de útero, a vacina indicada é a que está no mercado e que protege contra 4 tipos de HPVs. Os HPVs 6 e 11, causadores de verruga genital, e os HPVs 16 e 18 que causam câncer. Essa vacina pode ser utilizada em mulheres jovens de 9 a 26 anos de idade. Por outro lado, se a maior preocupação for o câncer de colo uterino, o produto a ser indicado deverá ser a vacina em fase de licenciamento, que protege contra os 4 principais tipos de HPVs oncogênicos, ou seja, que causam câncer. Essa vacina pode ser utilizada em meninas a partir de 10 anos de idade sem restrição quanto à idade máxima.

Nesse momento, há que se pensar também em outras maneiras de prevenção. O governo teria ótimos resultados na prevenção do câncer do colo de útero se houvesse uma campanha de conscientização entre as mulheres. O exame Papanicolau, realizado em consultórios ou postos de saúde, deve ser feito de maneira periódica. É através desse procedimento que são detectadas as lesões com potencial de evolução para tumores malignos. Porém, nesse país de dimensões continentais, onde nem sempre a população tem acesso pleno aos exames regulares, a vacina é a grande promessa de redução da doença. Por tudo isso, meus parabéns à senadora e à deputada.

Edimilson Migowski é presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia/RJ e professor-doutor de Infectologia Pediátrica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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