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Os chefes de Estado e especialistas de 196 países reunidos em Paris para a Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP21) têm em mãos a difícil tarefa de buscar soluções para o dilema energético que se coloca para todos os países do planeta: como criar um sistema de oferta de energia que diminua a emissão dos gases do efeito estufa (GEE) e, ao mesmo tempo, atenda ao forte aumento de demanda por energia previsto para o século 21. É uma questão urgente. Segundo dados de 2013 do World Energy Council, há hoje no mundo 1,2 bilhão de pessoas sem acesso à energia elétrica. Presumindo que governos e entidades internacionais terão entre suas prioridades trabalhar para a diminuição da desigualdade mundial e para a inclusão social e econômica da população, a oferta de energia elétrica terá de se multiplicar em poucos anos.

A questão é que o padrão poluidor segue sendo significativamente mais econômico e competitivo que o padrão sustentável, situação que se agravou com a crise econômica de 2008. As novas tecnologias e fontes renováveis de geração de energia elétrica – como a energia eólica ou solar – têm custo mais alto do que as fontes e tecnologias que geram maior emissão de gases do efeito estufa, como a termoelétricas. Com a recessão, países que estariam dispostos a fazer enormes investimentos em tecnologias limpas tiveram forte redução na capacidade financeira de investir em programas e políticas energéticas. Tradicionalmente, no âmbito das decisões políticas e de governo, a questão econômica imediata de curto prazo tem prevalecido, em detrimento das questões climáticas de médio e longo prazos.

O padrão poluidor segue sendo significativamente mais econômico e competitivo que o padrão sustentável

Paradoxalmente, em favor de resoluções mais ousadas e com foco no futuro do planeta, pesa o fato de que o aquecimento global é uma realidade mensurada. A tolerância com a manutenção do atual perfil energético mundial vem diminuindo na mesma proporção e velocidade em que aumentam os eventos climáticos extremos e custosos – tanto do ponto de vista material como humano. A crescente e cada vez mais organizada pressão mundial em favor da mitigação dos impactos ambientais certamente será levada em consideração pelos líderes políticos e empresariais reunidos em Paris. O desafio ímpar que se impõe, no entanto, permanece. Dirigentes e investidores ainda precisam descobrir uma forma eficiente de conciliar o crescimento da oferta de energia elétrica com custos competitivos, diminuição dos GEE e, ao mesmo tempo, garantir a bilhões de pessoas o acesso à energia estável e contínua.

Sergio Malta, presidente do Conselho de Energia Elétrica do Sistema Firjan, é diretor do Comitê Brasileiro do Conselho Mundial de Energia.
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