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A incerteza quanto aos resultados das eleições de fevereiro na Itália causam apreensão em todo o mundo, visto que se trata das definições políticas de uma das maiores economias da zona do euro. Moldados por um sistema de governo parlamentar, os italianos se viram em um cenário conturbado quando seu então primeiro-ministro, o economista Mario Monti, renunciou ao cargo em 21 de dezembro de 2012, após a aprovação do orçamento para o exercício de 2013. A manobra de Monti antecipou as eleições legislativas italianas para 24 e 25 de fevereiro.

O pleito permitiu a eleição de novos deputados e senadores; contudo, a maioria necessária para a escolha de um novo primeiro-ministro não foi atingida por nenhum partido ou coalizão. O empate técnico na disputa pelo cargo entre os candidatos Pier Luigi Bersani, do Partido Democrático (centro-esquerda), e Silvio Berlusconi, do Partido Povo da Liberdade (centro-direita), fortaleceu o terceiro colocado, o comediante e político Beppe Grillo, do Movimento 5 Estrelas, obrigando os políticos italianos a repensar suas coalizões.

As propostas de Bersani, intituladas "Oito pontos para mudar a Itália", são próximas das do ex-primeiro-ministro Monti. Dentre elas, destacam-se a austeridade, o fortalecimento de leis de combate à corrupção e ofertas de trabalho para jovens. De outro lado, Berlusconi, que foi primeiro-ministro por mais de dez anos, tenta mais uma vez o cargo defendendo teses contrárias à austeridade com políticas mais voltadas para o crescimento econômico.

Grillo, insatisfeito com os rumos da política econômica italiana, consultou o eleitorado diretamente, usando as redes sociais, e levantou, inclusive, a hipótese de uma consulta popular sobre a manutenção ou saída da Itália da União Europeia. Ele também salientou que seus opositores representavam o "mais do mesmo". Esse discurso seduziu o eleitorado e permitiu que o seu partido, o Movimento 5 Estrelas, ganhasse espaço no Parlamento, mesmo sem contar com um histórico importante na política italiana.

Os italianos, insatisfeitos com a política de Monti, apoiaram Grillo intensamente, mesmo que de forma inusitada, consolidando, com isso, um verdadeiro "basta" ao modelo imposto. Visionários, os membros do 5 Estrelas almejam eliminar a corrupção, desenvolver políticas ambientais e acentuar o crescimento.

Como não conseguiram a maioria em ambas as casas, exigida pela Constituição – Bersani tem a seu lado 345 deputados e 123 senadores; Berlusconi, 125 e 117, respectivamente –, eles devem recorrer ao apoio de Grillo (que obteve 109 cadeiras na Câmara e 54 no Senado) num novo pleito para a escolha do primeiro-ministro.

O problema é que tanto Berlusconi quanto Bersani construíram uma oposição radical a Grillo. Daí o impasse.

Como na política as alianças são estruturadas em conformidade com as necessidades do momento, é provável que o que foi dito seja desdito e aqueles que eram opositores encontrem uma alternativa para eleger o primeiro-ministro, ainda que compulsoriamente guiados pelas novas 5 estrelas que despontam no horizonte italiano.

Sérgio Kalil, advogado e cientista político, é professor da FAE Centro Universitário.

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