• Carregando...

O debate é grande, mas não creio que a ideia de elitização dos estádios brasileiros terá vida longa, simplesmente por um aspecto: vai faltar público. Vamos separar as situações. Uma coisa são competições como a Copa das Confederações ou a Copa do Mundo, que atraem um público que não costuma ir aos estádios, e está acostumado a pagar caro para ver um show do U2, ir ao Rock in Rio ou a um espetáculo do Cirque de Soleil. Nesses casos, como a demanda é muito grande, é natural que o preço responda a isso. De outro lado, muito diferente, estão os jogos da temporada normal de futebol (Brasileirão, estaduais etc). Nesse caso, não adianta forçar a barra e continuar aumentando os preços dos ingressos porque o torcedor simplesmente não irá aos estádios.

Aliás, já faz tempo que ele não vai, vide a média de público do futebol brasileiro, que anda na faixa dos 3,5 mil torcedores por jogo. Uma pesquisa da Pluri mostrou que, nos últimos dez anos, o preço médio dos ingressos mais baratos dos times que disputam o Campeonato Brasileiro subiu 300% (contra uma inflação próxima a 90%), o que o torna o mais caro do mundo, considerando a renda per capita de cada país analisado. O futebol brasileiro até vem tentando, mas ainda não conseguiu revogar a lei da oferta e da procura.

Estádios novos são pré-condição para atrair o público, e isso ocorre, no início, até pela novidade em si. Mas, no médio prazo, os torcedores voltam a se afastar, pois há vários outros fatores que influenciam a ida aos estádios, como a insegurança, a concorrência com outras formas de entretenimento, os jogos com baixa qualidade e pouca importância, a comodidade do pay per view etc. É até possível elitizar uma competição como a Copa do Mundo, um espetáculo com poucos jogos e muitos craques. Mas não dá para elitizar o futebol nacional com seu calendário caótico e aridez de estrelas.

Estádios não são como pequenas salas de cinema, e sim grandes espaços para 30 mil, 40 mil pessoas. Enchê-los 35 vezes ao ano significa deslocar cerca de 1 milhão de pessoas durante uma temporada, tarefa difícil quando o preço do ingresso é muito alto. Alguns clubes até conseguem por algum tempo (em geral enquanto a fase é boa), mas a maioria já não leva público nem quando a maré ajuda. Elevar os preços além da conta é trocar um torcedor de menor renda por um espaço vazio, até porque a classe mais alta (o foco da elitização) é justamente aquela que tem mais opções de entretenimento para ocupar seu tempo, sendo o futebol apenas mais uma delas. Nesse cenário, é fundamental que se combine uma parcela de ingressos caros para quem pode pagar com ingressos mais populares, para que o estádio encha e se tenha ganhos de escala.

Fernando Ferreira é sócio-diretor da Pluri Consultoria.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]