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Quando a produção nacional começa a ser substituída por produtos e componentes importados, o país desaprende a fabricar a tecnologia, os trabalhadores perdem capacitação para operar os processos e a indústria perde sua competitividade

O desenvolvimento tecnológico de uma economia propõe-se a torná-la mais competitiva e, portanto, capaz de ampliar o seu desempenho no comércio exterior. Para a nação isso representa geração de renda e ampliação da quantidade e da qualidade dos empregos oferecidos pela indústria. Portanto um balanço comercial dos diversos produtos que compõem a nossa pauta de comércio exterior, quando classificados por sua intensidade tecnológica, dará a medida do nosso domínio da tecnologia. Por sua vez, a tendência de crescimento do seu saldo ou do déficit informará se estamos desenvolvendo a nossa competência tecnológica ou não. Uma avaliação completa é certamente complexa, porém é possível um retrato de alguns segmentos do nosso setor produtivo, notadamente, os que têm grande relevância na questão emprego e renda.

Recentemente, o setor automotivo divulgou dados preocupantes. Segundo a Anfavea, a participação dos veículos importados no mercado nacional passou de 5% em 2005 para 23% este ano e, enquanto a produção nacional teve alta de 45% no mesmo período, o número de carros importados cresceu 115%. Se em 2010 as empresas instaladas no Brasil importaram 660 mil veículos, este ano, devem vir 850 mil unidades de fora. Segundo o sindicato setorial do ABC, isso representaria perda de empregos.

A gravidade desses dados alertou até os trabalhadores em relação ao esvaziamento tecnológico da cadeia produtiva do setor e o consequente risco de desindustrialização, levando-os a uma grande manifestação na região do ABC, em São Paulo, em defesa do emprego e da indústria nacional.

Assusta o fato de que outros setores tradicionais, como os calçados e o têxtil, já estão se tornando "meros importadores", estágio a que já chegaram os produtos eletrônicos de consumo. Tanto do lado dos industriais quanto dos trabalhadores, portanto, a intenção é a mesma: buscar soluções para evitar que a concorrência de produtos e componentes estrangeiros provoque o esvaziamento tecnológico do parque industrial brasileiro – mesmo em tempos de cenário macroeconômico adverso com juros altos, câmbio apreciado e carta fiscal asfixiante.

Para reverter essa tendência, é indispensável uma política pública corajosa, ousada até, de apoio ao desenvolvimento de inovações tecnológicas através do compartilhamento de risco entre Estado e indústria. Essa é a única resposta que o Brasil pode dar a seus competidores. Quando a produção nacional começa a ser substituída por produtos e componentes importados, o país desaprende a fabricar aquela tecnologia, os trabalhadores perdem capacitação para operar aqueles processos (além de perderem seus empregos) e a indústria perde sua competitividade, até no mercado interno. E reativar um parque industrial paralisado é um esforço gigantesco, quase como começar do zero.

Em um ambiente de estímulo à inovação tecnológica, ao contrário, as indústrias levam vantagem sobre seus competidores, a qualidade dos empregos melhora, a importação de tecnologia diminui, o crescimento econômico se torna mais robusto e sustentável e o Estado pode distribuir melhor a renda. É o que mostram países emergentes como Coreia.

Roberto Nicolsky, doutor em física, é diretor-geral da Sociedade Brasileira Pró Inovação Tecnológica (Protec).

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