Quarta-feira, 7 de setembro de 2011. Não foi mais uma festa da independência, com desfile, continência e homenagem às autoridades da República. Foi diferente. Assistiu-se ao primeiro lance de um movimento de cidadania que tem tudo para mudar a cara do Brasil.

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Convocadas pelas redes sociais, manifestações contra a corrupção atraíram pelo menos 30 mil pessoas em várias cidades do país, como Brasília, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. O maior ato foi em Brasília, onde a Marcha Contra a Corrupção reuniu na Esplanada dos Ministérios cerca de 25 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, durante o desfile em comemoração ao Dia da Pátria. Os manifestantes apareceram com faixas, cartazes, vassouras representando a faxina na política, nariz de palhaço e roupa preta.

Entre os alvos do protesto, o Congresso Nacional, criticado pela vexatória absolvição da deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF), flagrada recebendo propina. O movimento cobrou punição dos envolvidos no mensalão do PT, aquele que o ex-presidente Lula diz que nunca existiu. A passeata ocorreu uma semana após o Congresso do PT deixar claro que não apoia nenhum tipo de faxina anticorrupção no governo e de considerar que esses movimentos eram parte de uma "conspiração midiática" e uma forma de promover a "criminalização generalizada" da base aliada ao Planalto. Mas os manifestantes deixaram claro que não admitem a interrupção da faxina em nome da governabilidade. O poderoso PMDB e os partidos da base aliada sentiram a mordida da cidadania. O jogo começou e ninguém conseguirá parar no apito ou ganhar no tapetão.

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Jovens, muitos jovens, exigiram a aplicação imediata da Lei da Ficha Limpa – que depende de julgamentos no Supremo Tribunal Federal (STF). As faixas tinham frases fortes e bem-humoradas. Havia dizeres como: "País rico é país sem corrupção" (referência ao slogan do governo federal; "País rico é país sem miséria"). O povo, mais perspicaz do que se pensa, sabe que a dinheirama da corrupção está na raiz da pobreza dos brasileiros. Verbas públicas, desviadas da saúde, da educação, da agricultura, ergordam as contas dos parasitas da República e emagrecem a vida e a esperança dos brasileiros.

Um grupo de estudantes se destacou no meio da multidão com baldes e vassouras para completar a "faxina" anticorrupção do governo Dilma. Os jovens foram "limpar" o Ministério da Agricultura, pasta envolvida no escândalo de corrupção que culminou na queda do ministro Wagner Rossi. "Vamos tentar ir além, já que parece que ela (Dilma) não está muito a fim de continuar com o serviço", disse o estudante Arthur Alves, de 20 anos. Sobrou para todo mundo. "Contra Sarney e sua gangue"; "Menos ratos e mais ratoeiras"; "Não precisa de CPMF, basta não roubar". O pessoal lavou a alma.

Depois dos protestos realizados no Dia da Independência, o jovens prometem mais. O Rio de Janeiro já prepara um grande evento no próximo dia 20, a partir das 17 h, na Cinelândia. O protesto, organizado pelo movimento "Todos Juntos Contra a Corrupção", criado em agosto deste ano nas redes sociais, também será realizado, simultaneamente, em São Paulo, Campo Grande, Recife e Manaus, entre outras capitais. Depois, vem aí outra importante rodada de manifestações, marcada para 12 de outubro. Sobram motivos para acreditar que será maior e mais capilar.

A corrupção, infelizmente, sempre existirá. Ela é a confirmação cotidiana da existência do pecado original. Mas uma coisa é a miséria do homem; outra, totalmente diferente, é a indústria da corrupção. Esta, sem dúvida, deve e pode ser combatida com os instrumentos de uma sociedade democrática. E o Brasil, não obstante os reiterados esforços de implosão da verdade (a mentira e o cinismo tomaram conta da vida pública) e de recorrentes tentativas de cerceamento da liberdade de imprensa e de expressão, ainda conserva importantes reservas éticas.

Vislumbro, nas passeatas da faxina verde-amarela, um reencontro do Brasil com a dignidade e a esperança.

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Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo (www.masteremjornalismo.org.br), professor de Ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia (www.consultoradifranco.com). E-mail: difranco@iics.org.br