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O Evangelho de hoje é constituído somente por três versículos, mas muito importantes, porque, se assimilados a fundo, nos obriga a rever a nossa imagem de Deus. Para muitos cristãos Ele ainda está associado ao medo: é aquele que sabe tudo, que vê tudo, que nos espia para descobrir as nossas falhas e por fim nos espera para o castigo. Um Deus deste jeito pode ser amado? Quando a gente começa a pensar, logo se convence que este não é Deus, mas uma ridícula caricatura, por isso mesmo rejeitada. É pena que depois estas pessoas não encontrem alguém que lhes apresente o verdadeiro Deus, o Pai que Jesus nos revelou.

O Evangelho de hoje nos ajuda a descobrir esta nova face de Deus, uma face serena que nos inunda de alegria. Após esta descoberta, nos sentiremos dominados pela vontade de comunicá-la aos outros, desejosos de partilhar a todos a experiência que nos trouxe a felicidade e nos libertou de qualquer angústia.

Quando nós pensamos em Deus que se faz homem em Jesus de Nazaré, acabamos sempre considerando este fato como um episódio, um triste intervalo de sua vida. Veio entre nós, passou conosco mais ou menos trinta anos, passou por bons e maus bocados, e por fim voltou ao céu, lá longe. Lá continuou feliz, fazendo o que sempre fez antes.

O nosso Deus se fez homem e permanece para sempre um de nós, não se afasta deste mundo, não tem medo se sujar-se com a matéria, com os homens e com nossos pecados. Sempre é, e em qualquer circunstância, o Emanuel, o Deus conosco. O amor de Deus para com os homens se manifestou na doação de seu Filho Unigênito.

O Deus do Evangelho, o Deus que Jesus nos ensinou a chamar como Pai, é aquele que ama o homem pecador. Não o pecador que já se converteu, mas aquele que continua pecador. No-lo diz com clareza São Paulo na Carta aos Romanos: "Enquanto nós éramos ainda pecadores, Cristo morreu pelos ímpios. Em rigor, a gente aceitaria morrer por um justo; por um homem de bem, quiçá, se consentiria morrer. Mas eis aqui uma prova brilhante do amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós" (Rm. 5,6-8).

Deus é aquele que nunca se entrega diante do pecado do homem. Não quer dizer que Ele não se importe com o mal ou faça de conta que não vê. Ninguém odeia o pecado mais do que Ele porque ninguém melhor do que Ele entende como o pecado destrói a vida dos seus filhos. O que Ele quer é que parem de cometer erros, para que possam ser felizes. E se o homem não aceita voltar-se para Deus? Se não quer mesmo se deixar salvar? Deus vai conseguir da mesma forma! Julgamos, talvez, que a nossa maldade seja mais forte do que o seu amor? O filho não veio para "salvar o mundo"? O "mundo" para João é o símbolo do mal absoluto. É justamente com esse mal extremo que Deus quer "medir forças". Poderá sair derrotado deste embate?

Dom Moacyr José Vitti, CSS Arcebispo Metropolitano de Curitiba.

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