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Candidato em campanha costuma passar da conta para agradar o voto, exagerando no que promete e nas concessões à compostura que preserva no trato social. O presidente-candidato Lula não apenas segue a regra, como registra recordes na sua coleção de o maior em tudo em todos os tempos. Um dos impulsos que marcam a sua personalidade é a irresistível sedução pelos ornatos que enfeitam a cabeça e garantem a foto na mídia e segundos nos noticiários das TVs. Tudo que recebe de presente e que se ajuste ao formato da cuca, enfia na cuca, seja boné do MST, gorro de clubes, casquete de entidades, barrete de associações e até o esquecido e desbotado bibico do PT.

Não é a primeira vez que recebe os paparicos de comunidades indígenas e se deixa fotografar com penachos coloridos. Nunca em tão grata oportunidade como na assinatura do decreto que cria a Comissão Nacional de Política Indígena, ao receber do cacique Francisco Urbano Pokze, da etnia Rikbaktsa, de Mato Grosso o mimo do cocar que simboliza paz e amor. Sem desperdício de um segundo, equilibrou a bela peça alegórica no cocuruto e posou para fotógrafos e cinegrafistas.

A aculturação implacável que descaracteriza as tradições dos primeiros habitantes do nosso maltratado país não afetou a magia dos ritos seculares. O cocar com o bom gosto na combinação das cores e a mensagem que receita paz e amor vem mesmo a calhar, como o sábio conselho de uma meia-trava na escalada de violência e baixaria que assola o país e enlouquece a pré-campanha, desatinada na sua precipitação.

O presidente-cacique-candidato já desfrutou de tempos mais amenos. Durante meses, na interpretação ao pé da letra e de ética duvidosa do precedente do seu inimigo Fernando Henrique Cardoso, lançou-se à campanha em todas as folgas da sua agenda, o que significa praticamente em tempo integral. No luxo do AeroLula, tem viajado todas as semanas, para inaugurar obras inacabadas, lançar a pedra fundamental de promessas ou atender a convites que assegurem público, palanque e microfone para os improvisos, quando solta o verbo e diz as coisas mais estapafúrdias. Nas repetidas queixas às críticas e cobranças da oposição, bateu na tecla que em três anos de governo já fez mais pelos pobres do que os que o antecederam em 500 anos de ocupação do poder pelos conservadores.

Parece da mais urgente conveniência uma pausa para a arrumação da bagunça que se alastra pelos três poderes. O governo tem sarna para arranhar com as unhas por muito tempo. O caiporismo e a irresponsabilidade montaram o escândalo da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, e que embrulha no manto da suspeição os dirigentes da Caixa Econômica Federal, com o agravamento das suas denúncias à CPI dos Bingos, que deixam o ex-todo-poderoso ministro Antônio Palocci na corda bamba.

Da desmoralização do Congresso, a Câmara cuida com o descaro do conluio entre o PT, aliados e o baixo clero para a orgia da absolvição dos acusados pela CPI dos Bingos de meter os gadanhos no mensalão e no caixa 2. Com os dois inocentados na farra de quarta-feira – Wanderval Santos, do PL, e João Magno, do PT –, são sete, conta de sem-vergonha, a escapar da cassação do mandato que desonraram.

A greve de um dia dos desembargadores mineiros de protesto contra a moralizadora decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) fixando o teto de R$ 24.500 para os vencimentos dos servidores públicos, de indecorosa coerência com a reação contra o fim do nepotismo, respinga na toga, sem maiores conseqüências, Trata-se de esperneio estadual.

Com a decisão do STF, por 9 votos a 2, que mantém a verticalização para as alianças partidárias nas próximas eleições, a casa começou a ser arrumada. À margem do debate sobre as vantagens e inconvenientes da obrigatoriedade das alianças dos partidos para a eleição presidencial ser respeitada nos eventuais acordos estaduais, o que está em causa é a obediência à norma constitucional que determina que as alterações na legislação eleitoral só podem entrar em vigor um ano depois de aprovadas.

Limpa a área, as articulações entre partidos devem definir as chapas, encerrando as intermináveis especulações. O esboço da polarização entre o presidente Lula e o governador Geraldo Alckmin para a fase decisiva do primeiro turno, com a massificação do horário de propaganda em rede nacional de rádio e TV, de 15 de agosto a 29 setembro, não paralisa a campanha.

Mas, pode e deve convocar a minoria de bom senso ao mutirão para, sem descuidar dos anéis, tratar de salvar os dedos, antes que a crise institucional acabe com a festa.

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