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A crise da aviação civil, a maior de todos os tempos, recorde do primeiro mandato do reeleito, não exibe em tela inteira apenas a acefalia que paralisa o Executivo. No reverso da mesma moeda expõe a novidade, creditada à criatividade do presidente Lula, do governo oficiosamente em férias coletivas no largo período entre a vitória e a posse a 1.° de janeiro.

Na afobada improvisação do esquema de emergência para tamponar o rombo na popularidade do seu futuro governo, na coceira da aflição, Lula interrompeu o descanso para presidir reuniões entre os convocados. E parece que caiu em si diante do descalabro administrativo que corrói a imagem do vencedor, que sonha com a confirmação da liderança continental.

Aprovou medidas de angustiosa emergência e repassou o exercício da Presidência à ministra Dilma Rousseff, afinal reconhecida na função da sua rotina. O presidente cuidará de resolver outros enguiços que entopem o encanamento oficial.

A perplexidade da atarantada equipe desentrosada chega às raias da comicidade. O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, anexou mais uma pérola à coleção de pomposas tolices e escandiu a frase burilada na vigília cívica: "O governo não vai enfrentar a crise com uma pressa neurótica ou temperamental". Pois é exatamente o que está fazendo.

Perdido entre as fardas do Ministério da Defesa, o ministro Waldir Pires arde na fogueira do equívoco da sua escolha para uma área da qual não entende absolutamente nada. Agora, tanto faz como tanto fez ser demitido ou agraciado com mais quatro anos de ócio remunerado.

O mal está feito e é irreparável: a crise que maltrata milhares de passageiros em horas que se prolongam em noites e dias no desespero de espera no desconforto dos aeroportos do país é de visibilidade internacional. Expõe o fracasso do governo no momento crítico em que precisa da autoridade e prestígio para montar o esquema de sustentação política e parlamentar e recompor o ministério de mediocridade equivalente ao seu inchaço.

Tudo isto desmorona com o fragor de calamidade e as próximas pesquisas devem refletir as oscilações nos índices de popularidade presidencial.

A mancha negra se espalha por todas as brechas. A imagem do êxito burilada pelos marqueteiros durante a campanha acusa as nódoas da decepção popular. Nas ruas e praças da insegurança, a população acuada mostra nas rugas do rosto a frustração de quem se sente enganada.

Enxurrada das denúncias escorre por todos os ralos. Os erros na articulação das alianças partidárias saltam como pipocas nas primeiras derrotas no passivo do Planalto. Estava previsto que o deputado José Janene (PP-PR) escaparia da cassação do mandato na maré de desmoralização do Congresso, que uma vez mais desprezou o parecer do Conselho de Ética, a rebelião dos mansos da bancada dos recentes aliados do PMDB surpreendeu o governo e impôs severa advertência com a escolha do deputado pefelista Aroldo Cedraz, um ilustre desconhecido do baixo clero, para a vaga de ministro do Tribunal de Contas da União – uma das mais cobiçadas jóias da coroa – derrotando o candidato oficial, deputado Paulo Delgado (PT-MG), por 172 votos a 148.

O tempo desperdiçado nas infindáveis rodadas de conversa fiada do presidente com os partidos – que se oferecem para o sacrifício de servir à pátria nos ministérios e secretarias que se amontoam nos palácios superlotados da Esplanada dos Ministérios – agora esmurra a porta do seu gabinete vazio. E berra o aviso de que acordo político só vale com o rateio dos prêmios. O preto no branco e o ministério na mão.

Ainda há tempo de evitar o pior. Nos 22 dias até a posse, quanto mais depressa o presidente escolher e convidar os futuros ministros, menor será o desgaste. Do jeito que as coisas desandaram, sem corretivos urgentes a festa da posse exigirá um imenso esforço para reunir a multidão que lave a alma dos muitos desgostos deste período agoniado.

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