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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está dissipando, de maneira tão extravagante e perdulária, o seu cacife de mais de 58 milhões de votos que garantem o bis do segundo mandato que as características de governo reeleito, com gosto de prato requentado, acentuam as rugas em volta do nariz e o ar cansado. Até a posse, a 1.° de janeiro, serão mais um mês e uma semana com a carga pesada dos desgastes nos acertos finais para bater o martelo nos acordos com os futuros aliados, cada qual ansioso para desembarcar no poder com a pasta bojuda, levando o ministério, a secretaria, a autarquia, que tudo tem o sabor de vitória e da fruição do generoso bolo oficial.

A reeleição envelhece os governos novos, vergados ao peso dos compromissos assumidos nos palanques da caça ao voto esquivo e da obrigação de superar os sucessos badalados no primeiro mandato, com os exageros e os enfeites do marqueteiro para engambelar o eleitor.

Em instante de eufórica lucidez, quando confirmada a vitória consagradora por mais de 20 milhões de voto de vantagem, o presidente-reeleito, com jeito de filósofo, reconheceu que não mais poderia apelar para as comparações com as estatísticas dos oito anos dos dois mandatos do seu antecessor para anunciar os recordes "do maior governo que este país já viu". A herança maldita que desqualificava os pífios índices de FHC teria que ser aposentada para ceder o lugar ao desafio da confrontação diante do espelho. Para não afundar no buraco do fiasco, o novo governo Lula terá que bater, e com folga, a vasta coleção de retumbantes êxitos, ampliados com os exageros do candidato a dobrar a permanência no Palácio do Planalto.

Ora, a inspirada observação presidencial na celebração da vitória deve ser completada com a avaliação das suas exigentes conseqüências. Governo reeleito não se expõe ao sol a pino que castiga a pele sem o viço do primeiro mandato. Nem deve abusar da longa exposição na última etapa da travessia.

A iniciativa da abertura dos contatos, entendimentos para a articulação de acordos escancarou a portinhola para farândola das ambições espicaçadas. Quem estava quieto, chocando a expectativa, agitou-se e entrou na roda. O que, se não estava arrumado, guardava o decoro do silêncio e botou a boca no mundo.

E tudo para quê? Para nada. O governo não conseguiu enquadrar o PT, mais rachado do que vidraça de janela de pobre, e que exige conservar o quinhão conquistado, com o penduricalho de novas e amplas reivindicações.

Foi muito fácil com o PMDB, laranja bichada de muitos gomos. Lula, afinal, acertou uma, seguindo a tática clássica dos velhos manuais da esperteza. Em rodada fulminante, com a oferta na mesa para a decisão rápida uma vez fechado o negócio. Agora, é só distribuir as fatias quando cortar o bolo ministerial e outras guloseimas.

A indefinição paralisa o governo que não é muito chegado à dureza do batente. Quem não sabe se fica ou se desocupa a moita e cultiva um mínimo de pudor, encolhe-se, finge de morto.

Na outro lado do muro, a especulação avivada pelos rumores, inconfidências, reuniões alimenta as intrigas, que irrigam a mídia com a permanente troca de farpas ou de grossas descomposturas.

E depois, cá para nós, que acabrunhante desfile de medíocres na passarela dos prováveis futuros ocupantes da cúpula renovada para o desafio de um segundo mandato melhor do que o primeiro, que reconstruiu o país, fazendo mais do que foi feito "por todos os que governaram este país por mais de cinco séculos!"

Noves fora o mensalão, o caixa 2, a compra de ambulâncias superfaturadas da operação dos sanguessugas, a novelinha do dossiê, a tal quadrilha denunciada pela Justiça e, agora, a vexaminosa bagunça nos aeroportos e as desculpas do ministro da Defesa,Waldir Pires.

Bagatelas, ninharias, bobagens.

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