Qual a potência que nos ameaça e deve ser preventiva­­men­­te atacada – a Venezuela com os seus flamantes Sukhoi de fabricação russa nos quais não consegue enfiar-se o gordo Hugo Chávez?

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O que é um caça? Qual o papel das aeronaves na guerra moderna? E os mísseis? Quem ameaça a nossa soberania? O que significa exatamente "parceria estratégica"? A compra dos 36 primeiros aparelhos do programa de reaparelhamento da força aérea deixou de ser novela, telenovela e romance policial. Agora está mais próxima do estilo narrativo das histórias em quadrinhos – simplificada, sincopada e falsamente eletrizante.

Em 2001, no segundo mandato de FHC, o programa era designado como F-X e estava orçado em pouco menos de R$ 4 bilhões. Em novembro de 2002, o presidente decidiu entregar a decisão ao sucessor, Luís Inácio Lula da Silva, que preferiu priorizar o combate à fome.

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Seis anos depois, maio de 2008: resolvido aparentemente o problema da fome, o programa é acelerado, rebatizado como FX-2 a um custo de R$ 10 bilhões. As opções de equipamentos reduziram-se sucessivamente, agora restaram três. O governo está claramente dividido: a área técnica (FAB) prefere o modelo sueco (Gripen), mais barato para construir e operar. A área política, comandada pelo próprio presidente da República, opta pela alternativa francesa (o Rafale), mais cara e menos benéfica para a indústria nacional. Os dois grupos concordam numa questão fundamental: é preciso decidir imediatamente.

Pergunta óbvia: por que a pressa? As forças armadas consideram iminente o início de uma guerra? O governo teme que o assunto seja levado aos palanques eleitorais? Neste caso, qual o inconveniente? Não seria mais democrático e, portanto, mais patriótico deixar que o sucessor de Lula tome a decisão?

Entrementes, convém atentar para outras questões. Os aparelhos, erroneamente chamados pela imprensa de "caças", são na verdade, caças-bombardeiros, aparelhos multifuncionais, eventualmente destinados a interceptar ataques da aviação inimiga e prioritariamente atacar alvos além-fronteiras. Hoje, a defesa aérea de um país depende primeiramente de um sistema de radares e mísseis. O dogfight, combate aéreo, é coisa do passado. Qual a potência que nos ameaça e deve ser preventivamente atacada – a Venezuela com os seus flamantes Sukhoi de fabricação russa nos quais não consegue enfiar-se o gordo Hugo Chávez?

A última façanha aérea na América Latina foi protagonizada por um turboélice, Supertucano, fabricado pela nossa Embraer para as forças armadas colombianas. No outro lado do mundo, no Afeganistão, a mais nova vedete são os aparelhos não tripulados, comandados por controle remoto, capazes de voar a grandes altitudes, iludir os radares, localizar com precisão a qualquer hora com qualquer tempo grupos fortemente armados e destruí-los. Custa uma fração insignificante de um dos superjatos.

Significa que devemos queimar etapas e preparar a FAB para a guerra do futuro, a chamada guerra limpa, operada em monitores, botões e joy-sticks? É uma questão que não precisa ser respondida mas deveria ser levantada. Se não pelo governo, pelo menos por aqueles que estão produzindo esta emocionante história em quadrinhos. Também neste aspecto a visão dos técnicos (leia-se FAB) é a mais sensata porque, além de optar por uma solução menos dispendiosa, capacita o país a fazer os inevitáveis saltos tecnológicos.

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Conviria investigar ainda o real significado da misteriosa expressão "parceria estratégica" para justificar opção pelo Rafale francês. No cenário mundial qual a real diferença entre os EUA e a França? Sarkozy é mais progressista do que Barack Obama? O complexo militar-industrial francês é menos faminto que o americano? A França é institucionalmente mais republicana do que os EUA, sua política externa é multipolar, universalista, defende a entrada da Turquia na União Europeia ? O velho bonapartismo gaulês está mais próximo de nossos paradigmas político-culturais do que a plataforma pós-racial e pós-ideológica do primeiro presidente negro americano?

Esta história em quadrinhos vai render, merece ser acompanhada. Sem pressa e muita atenção.

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Alberto Dines é jornalista.