Parece não haver dúvidas sobre a importância da tecnologia na qualidade de vida das populações. Basta observar os países de melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e verificar que todos são detentores de alto grau de independência tecnológica e desenvolvimento industrial.

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Por estas bandas, nós, que estamos tentando ingressar na elite do desenvolvimento, vemos a população e, às vezes, os veículos formadores de opinião fazendo o que os linguistas chamariam de metonímia, isto é, confundindo o todo tecnológico com a parte relativa apenas aos aplicativos computacionais de imagens e de comunicações.

A tecnologia e a inovação sempre fizeram parte da vida humana. Sem elas, instrumentos de caça não teriam sido construídos e a busca por alimentos seria praticamente impossível para os ancestrais do Homo sapiens. Não haveria habitação segura nem defesa das intempéries e o ser humano, mamífero de frágeis atributos físicos, talvez tivesse sido extinto.

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Ao longo da história de vida em nosso planeta, aprendemos a tratar a água, produzir alimentos, viabilizar o uso da energia e a nos defender de eventuais perigos, muitos criados por nós mesmos. Para citar alguns agentes da inovação tecnológica relativamente recente: James Watt e a máquina a vapor, que provocou a Revolução Industrial no início do século 19; ou Michael Faraday e a indução eletromagnética que, devidamente explorada e trabalhada, permitiu a distribuição de energia e de informação, mudando os hábitos do século 20 e modificando as relações humanas no início do século 21. Concentrando o raciocínio em Faraday e simplificando um pouco a indução eletromagnética: imãs em movimento produzem correntes elétricas, ideia decisiva para a geração de grandes blocos de energia elétrica, partindo de movimentos naturais de cursos de água ou artificiais de máquinas a vapor. Esses grandes blocos de energia podiam, agora, ser transmitidos a grandes distâncias com poucas perdas, levando energia às pessoas espalhadas pelas cidades, vilas, fazendas e sítios do planeta.

É o exemplo arquetípico da ciência (a física de Michael Faraday) gerando tecnologia e com a coragem para a inovação de Nikola Tesla (correntes alternadas), proporcionando uso amplo e inclusão. Onde há energia elétrica é possível acender lâmpadas, cozer alimentos, ouvir rádio, ligar o computador, aquecer ou resfriar o ambiente, tratar a água, operar instrumentos hospitalares, enfim, melhorar a vida das pessoas. Isso, feito com responsabilidade e sustentabilidade, ajuda o ser humano a melhorar a vida e, consequentemente, aprimorar seus laços sociais, de amizade e, principalmente, de respeito ao próximo.

No Brasil, onde a engenharia é dirigida por dogmas político-econômicos, inovação transformou-se em palavra de ordem. Ministérios e secretarias de Estado mudaram de nome para incluir a nova palavra-chave, sem análise crítica ou política pública consistente e coerente com as necessidades reais da população. O governo federal dirá que seu ministério iniciou a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), iniciativa louvável que pretende aproximar as universidades das indústrias. Há, também, o projeto que está sendo chamado de "plataformas de conhecimento", visando aproveitar o potencial tecnológico reunindo grupos de pesquisadores reconhecidos, dispersos pelo país.

Como pessoa ligada à engenharia, só posso ficar feliz. Mas não deixo de preocupar-me com alguns pontos. O primeiro deles remete-me ao tempo em que eu era recém-saído da graduação, na segunda metade dos anos 1970 e primeira metade dos anos 1980, em que iniciativas como Centro de Pesquisa da Telebrás, Engesa, Cobra, Elebra, Mafersa e tantas outras geraram conhecimento precioso, porém perdido ao longo das mudanças de políticas governamentais que, sem reflexão ou planejamento, se sucederam.

Outro ponto importante é relativo aos beneficiários dessas iniciativas. Empresas são feitas para gerar lucro. Nada contra, mas sem exageros. A contrapartida desse lucro é a geração de trabalho e, principalmente, a democratização da qualidade de vida.

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Sem robustez de políticas públicas e sem inclusão social, a palavra inovação soa apenas como desculpa para aumentar a concentração de riquezas.

José Roberto Castilho Piqueira é diretor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e membro efetivo da Academia Nacional de Engenharia.

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