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Ler é muito mais difícil e complexo do que imaginamos. O nosso objeto de leitura não está concentrado naquilo que chamamos de livro, no que entendemos como tarefa de casa ou ainda como aprofundamento teórico envolvendo o nosso campo de trabalho. Somos desafiados, a cada momento, a ler o mundo e, sem termos exercitado o olhar seletivo e crítico, corremos um grande risco de desempenharmos o papel de leitores leigos, ou, ainda, de não leitores.

O apelo midiático é grande. O ataque é verbal e não verbal. O chamado social aparece pelas redes e, ampliando o significado da palavra, acabamos literalmente pescados, presos. A informação vem pelo rádio, pela televisão, pelo computador, pelo outdoor, pelo celular, pela janela do carro quando paramos no sinaleiro, pelas embalagens dos produtos em qualquer estabelecimento comercial, e nosso discurso vai ganhando, cada vez mais, vocábulos contemporâneos. Nossas crianças e adolescentes recebem muita informação, mas não sabem ao certo como transformá-la em conhecimento. Respondem com facilidade a comandos claros, intuitivos, imperativos, mas se perdem frente a questões contextualizadas que exijam deles a tomada de decisões ou a resolução de situações-problema.

Pesquisas recentes levantaram dados coletados em avaliações de larga escala que comprovam que a maior dificuldade na resolução de questões matemáticas está relacionada à interpretação de texto. E é fato! Basta prestarmos atenção em qualquer avaliação dessa disciplina que chegaremos às mesmas conclusões.

A geração da pressa, do intervalo, do tudo pronto, não tem exercitado a leitura tanto quanto deveria. Lê de forma fragmentada, em curtos espaços de tempo, intercalados ou em paralelo a outros estímulos visuais e sonoros. Lê sinopses e resumos divulgados na internet. Lê porque precisa ou porque vale nota. Não aprendeu a ler por prazer.

O conceito de leitura já foi ampliado e nos mostra que não basta ensinar a decodificar códigos, é necessário ensinar a interpretar os discursos trazidos pelo texto, seja ele verbal ou não verbal. Precisamos nos preocupar em qualificar, também de forma contemporânea, a leitura na escola e fora dela. A qualidade da leitura não cresce de acordo com a demanda de objetos a serem lidos e a prática da linguagem interpretativa precisa ser exercitada na mesma intensidade da oferta de leitura.

A criança lê o mundo desde que nasce e o prazer pela leitura deve ser cultivado. Então, neste ano, aproveitando o Dia Nacional do Livro Infantil, comemorado hoje, e a proximidade do dia 23 de abril, instituído pela Unesco como o Dia Mundial do Livro, incentive o seu filho a encontrar na livraria ou na biblioteca pública o livro que produza nele o encantamento necessário para provocar a frase "Eu quero esse!" Ajude-o na escolha. Dê tempo para que folheie. Se você é professor, incentive o seu aluno a fazer um intercâmbio de livros, das histórias descobertas neles e das emoções sentidas a partir delas. Independentemente da idade que nossos filhos e nossos alunos tenham, ainda podemos ensiná-los que, para conhecer o nosso mundo, precisamos aprender a ler e que dentro dos livros existem outros mundos que só chegaremos a conhecer se tomarmos a iniciativa de abri-los.

Gerson Luis Carassai é diretor-geral do Colégio Marista Santa Maria.

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