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Mais um domingo sem Belmiro Valverde Jobim Castor. Pensamos imediatamente em duas consequências parciais dessa ausência. O empobrecimento de toda uma comunidade, como já foi mencionado por muitos, e o desafio e estímulo aos seus alunos em evocar o pensamento consistente e substantivo. Que tentem substituí-lo na intelectualidade e na capacidade crítica. Como observador inteligente, de sólida formação acadêmica e experiência profissional, Belmiro era considerado um dos mais consistentes pensadores de Curitiba e do Paraná, onde, desde o início de sua carreira acadêmica, política e administrativa, se distanciou da mediocridade reinante em todas as esferas ditas representativas.

Alguns de nós tiveram o privilégio de ser colegas e alunos do professor Belmiro na UFPR, no curso de pós-graduação em Administração. Verdadeiro professor, daqueles para quem ensinar é condição missionária. Paixão, humildade, domínio de conteúdo, imparcialidade, generosidade, estímulo à participação, compromisso, prazer em compartilhar conhecimento, seriedade, respeito ao aluno são alguns atributos que lembramos ao qualificar um professor ímpar. Belmiro era tudo isso. Conseguia explicar situações complexas com raciocínios acessíveis. Embora notavelmente requisitado, estava sempre disponível aos alunos.

Desenvolveu uma habilidade invejável para nós, professores: conseguia se aproximar dos alunos sem jamais permitir se avizinhar. Benemérito nos seus exemplos de vida e na educação pelo ensino. Alguns de nós tiveram a oportunidade de viajar com ele a localidades distantes do Paraná, para dar aulas em cursos de pós-graduação. Seu interesse estava longe da simples remuneração. Satisfazia-lhe a lida acadêmica, o ensinar, o cumprimento de uma missão a ser transmitida, e que o fazia distintamente.

Durante essas longas viagens, relatava as estranhas relações entre grupos e pessoas, o que nos deixava estarrecidos. Àquela altura já sabíamos que estávamos sendo premiados com pérolas dos bastidores da história do estado. Um compêndio a respeito de políticos e gestores públicos que se apropriaram da competência de outros para alvorar seus conhecimentos e trabalho. Como é o caso da estrutura viária de Curitiba e do perfil dos nossos executivos governamentais de longa data. Acordos e negociatas que aconteceram e que conduziram o estado e o município a desenvolver os problemas que têm hoje em suas estruturas essenciais, tanto em termos econômicos e políticos quanto sociais.

Esperamos que suas publicações dominicais na Gazeta do Povo – que merecem ser relidas – e o conjunto de suas memórias tenham sido registrados para que se entendam aspectos da verdadeira história contemporânea do país, do Paraná e de Curitiba. E, principalmente, como ele gostaria e diria – como nas lendas gregas –, que os discípulos superem o mestre.

Sergio Bulgacov é professor aposentado do programa de pós-graduação em Administração da UFPR e professor da FGV/Eaesp. Márcia Ramos May é professora do programa de pós-graduação em Administração da UFPR.

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