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A mágica do caixa 2 gerou o filhote espúrio do mensalão, com jabaculê suficiente para estimular adesões ao governo.

Pela trilha da excentricidade, em manobra inédita, o presidente-candidato Lula e, em segundo e distante plano, o amarfanhado PT de cambulhada com sua recauchutada direção lograram a façanha de pautar a campanha eleitoral não apenas para uso próprio, mas com severas instruções aos adversários.

Em respeito à prioridade, reconheça-se a manha do favorito nas pesquisas. Nos intercalados e breves períodos em que exerceu a Presidência, seja dirigindo reuniões com fatias do seu obeso ministério para a discussão sobre projetos – ou na leitura de resumos de processos e, noves fora as viagens domésticas na caça ao voto ou pelos quatro cantos do mundo para a montar o reconhecimento de sua liderança internacional – Lula emplacou a proeza de impor à oposição a farta agenda dos temas que devem dominar a briga pelo voto.

Cauto e ladino na louvação dos recordes do seu governo, jamais incluiu no repertório da gabolice a indiscutível marca do "na história desse país nunca houve um governo com tantos escândalos e denúncias de corrupção".

Seria estranhável a singularidade do próprio candidato jactar-se do pecado dos saques ao dinheiro público para forçar o inimigo a cair na ratoeira atraído pela fedentina do queijo apodrecido.

Na verdade, não é bem assim. O presidente-candidato também escorregou no lodaçal que enlameou o Palácio do Planalto e respingou na porta do seu gabinete. Mas buscou refúgio na negativa, contra todas as evidências, de que de nada soube, nada ouviu, nada chegou ao seu conhecimento.

Ocorre que não foi um, nem foram dois os casos de explícita gatunagem. A maroteira nasceu quando, na composição do esquema para a reeleição, um companheiro iluminado teve a inspiração de confiar ao tesoureiro do PT, Delúbio Soares, a tarefa de levantar recursos para o financiamento da ambiciosa popularização do candidato sovado na seqüência de três campanhas. Delúbio descobriu Marcos Valério que chamou Sílvio Pereira e a trinca, com ajuda da complacência da abençoada cegueira oficial, descobriu a mina e todos as veredas para chegar ao cofre.

Nunca o país viu coisa igual ou parecida. A fonte generosa socorreu a todos os que apelaram pelo seu apoio. A campanha presidencial e seus afluentes não tiveram mãos a medir. Dinheiro a rodo para abastecer o caixa 2 até a tampa, distribuído com a excitação da miragem do poder, cada vez mais nítida.

Na embriaguez coletiva da vitória, diante da dificuldade de alianças para garantir a base majoritária do governo, a mágica do caixa 2 gerou o filhote espúrio do mensalão, com jabaculê suficiente para estimular adesões ao governo perdulário na distribuição de caraminguás e cargos sempre com linha direta às verbas arrecadas com os impostos, taxas e cortes orçamentários.

Ninguém contava com o azar que se apresentou na tribuna da Câmara no show do deputado Roberto Jefferson, companheiro insaciável que levou o seu gordo quinhão na partilha e denunciou a maroteira, escândalo, CPIs, desmentidos, provas em profusão nos depoimentos, confissões, acareações.

E o seguindo, o ato dos conchavos e mutretas para apagar as digitais dos milhões sacados em bancos, inclusive no exterior, carregados em malas, bolsas e até na cueca.

O andar de cima do governo veio abaixo com estrondo. Do ex-manda-chuva José Dirceu, do trio Delúbio–Valério–Sílvio Pereira ao presidente do PT, José Genoíno, e a arraia-miúda de deputados federais até o intocável ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Balanço final de três deputados cassados e, dos 14 denunciados, 11 foram absolvidos pelo plenário. Em dia de espetáculo, a deputada Ângela Guadagni dançou o maxixe do deboche.

O PT perdoou a todos os companheiros que foram incluídos na chapa de candidatos a bisa o mandato que enobreceram.

Ora, com tal fartura de assuntos para explorar na campanha, a oposição não tem como acatar o apelo do presidente Berzoini para manter o debate nas alturas dos salamaleques dos nobres temas, a léguas da baixaria.

O tom que afinará a campanha da oposição pode ser avaliado na contundente estridência pelos discursos das suas principais lideranças na Convenção Nacional do PFL que oficializou o acordo com os tucanos para o apoio da chapa Geraldo Alckmin–José Jorge. Um bom exemplo na frase pinçada do improviso do senador Antônio Carlos Magalhães: "Lula é doutor na roubalheira, na incompetência e no cinismo. Temos de mostrar ao país o Lula ladrão".

Esta a pauta da campanha da oposição, ofertada na bandeja pelo presidente Lula e o PT antes do arrependimento e da conversão purificadora ao Lulinha paz e amor.

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