| Foto: Maj. Will Cox/U.S. Army

“Em Deus eu confio. Todos os demais devem apresentar dados” W. Edwards Deming

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Sou um dos proprietários de uma Comunidade Terapêutica Urbana que se dedica ao tratamento de pacientes com Transtornos Aditivos. Como empresário, quanto mais pacientes a Villa Janus tiver, mais lucro terá a instituição. Portanto, recebam com reservas o abaixo exposto. Foi feito por quem, em tese, tem interesse de que aumente o número de dependentes de maconha.

Declinado este conflito de interesse, aos fatos: acaba de sair o World Drug Report 2017 , relatório oficial do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes. Nele, fica-se sabendo que os Estados Unidos foi o país onde o consumo de maconha mais cresceu no mundo, seguido nesta tendência pelo Uruguai, no período estudado e desde que as políticas liberalizantes sobre maconha foram implementadas nos referidos países. O dado não surpreende, pois, caindo a percepção de risco no consumo de uma determinada droga, é sabido que seu uso se eleva. Então, nos lugares onde se implementou a liberação da maconha o consumo aumentou. Em alguns, dobrou. Com isso, aumentarão as consequências clínicas e sociais decorrentes do consumo de THC: evasão escolar, depressão, esquizofrenia, aumento no consumo das demais drogas, acidentes de trânsito e emergências médicas envolvendo crianças.

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O exemplo foi dado pela indústria do tabaco há um século

Os que defendem esta política liberalizante a justificam pelo enfraquecimento do tráfico, com consequente diminuição da criminalidade. Ora, são pessoas que nunca atenderam dependentes químicos na vida. Não sabem que todo o cocainômano de hoje teve sua iniciação em álcool e maconha. Mais consumidores de maconha, mais, portanto, de cocaína. O tráfico restará fortalecido e não enfraquecido. Alias, é o que demonstram os dados do Escritório de Investigações do Departamento de Segurança Pública do Estado do Colorado, um dos que aprovaram o “uso recreacional” de maconha. Na consulta feita hoje, em seu site, a criminalidade não só não diminuiu, como, em alguns casos, aumentou. Aumentaram igualmente os acidentes de trânsito com mortes e as emergências médicas envolvendo crianças intoxicadas com THC.

Opinião da Gazeta: Maconha legalizada (editorial de 15 de maio de 2014)

Resumindo, o consumo aumentou, do que decorrerá aumento do número de pacientes e dos problemas decorrentes, e o crime não diminuiu. É o que demonstram os dados, notem bem, não do site de meu amigo, não da pesquisa feita no quintal e patrocinada sabe-se lá por quem, mas simplesmente da ONU.

Parece claro que a sociedade sairá perdendo com tal política e a pergunta que devemos nos impor é quem sairá ganhando. A resposta parece óbvia: a indústria da maconha, que tem em vista um negócio de quase 300 bilhões de dólares ao ano, capaz de rivalizar com a do tabaco e a do álcool. Também ganharão a mídia e as agencias de publicidade com este novo anunciante.

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Opinião da Gazeta: Liberar geral? (editorial de 09/09/2015)

O exemplo foi dado pela indústria do tabaco há um século, quando propagava que fumar fazia bem para bronquite, que as mulheres tinham o direito de fumar e que uma determinada marca era recomendada por médicos. Um século depois, a indústria da maconha vem com a balela da “maconha medicinal”, insiste no “direito do uso” e mesmo no “uso recreacional”. Não se deram ao trabalho sequer de mudar as peças publicitárias e, com pesado investimento em mídia, estão alavancando este novo negócio, que como tal, desenha-se um dos mais promissores deste início de século 21.

Aliás, se o leitor quiser investir na bolsa, compre ações da indústria da maconha, pois ganhará dinheiro. Afinal, no meu negócio, que tende a crescer de forma galopante com a eventual liberação, o quadro societário já está fechado.

Sérgio de Paula Ramos, psiquiatra e psicanalista, é doutor em Medicina pela UNIFESP, membro titular da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina e membro do Conselho Consultivo da ABEAD, instituição que presidiu duas vezes