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Um mal chamado islamofobia
| Foto: Unsplash

No ano passado, mais precisamente no dia 15 de março, a Organização das Nações Unidas instituiu esta data como o “Dia Internacional de Combate à Islamofobia”, o preconceito contra os muçulmanos. Aqui no Brasil, o Islam é uma religião minoritária – acredita-se que existam cerca de dois milhões de fiéis. Mas em todo o mundo são quase dois bilhões de muçulmanos. De acordo com estudos do PewResearch Center, organização americana que aborda questões de fé em suas pesquisas, a religião islâmica crescerá mais rapidamente do que qualquer outra religião. Até 2050, os muçulmanos serão praticamente tão numerosos como os cristãos. Ambos representarão três em cada 10 habitantes do planeta.

Quando anunciou a criação do “Dia Internacional de Combate à Islamofobia”, o secretário geral da ONU, António Guterres, lembrou que “durante mais de um milênio, a mensagem de paz, de compaixão e de bondade do Islam tem inspirado pessoas em todo o mundo”. No entanto, “enfrentam fanatismos e preconceitos apenas por causa da sua fé”. Guterres foi além, lembrando um aspecto que, na minha visão, está na base da islamofobia: “Além da discriminação estrutural, institucional e da estigmatização generalizada das comunidades muçulmanas, os muçulmanos sofrem não só ataques pessoais, mas também de uma retórica odiosa e de culpabilização”.

E o que é a religião islâmica? Monoteísta e milenar, ela prega a paz, a compaixão, o diálogo inter-religioso e a defesa da vida.

Já faz tempo que as pessoas têm uma ideia errada sobre o muçulmano. Cultivam um estereótipo de que ele é, basicamente, árabe, usa turbante, vive no deserto e se locomove em camelos. Infelizmente, após o ataque terrorista aos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2011, outros adjetivos foram agregados a essa descrição: violento e terrorista. Para deixar o cenário ainda mais complicado, grupos extremistas começaram a usar a religião – no caso, o Islam – para justificar a sua crueldade. E, claro, o mercado do entretenimento, em suas produções, transformou o muçulmano no inimigo.

Voltando à realidade brasileira, sempre ouvimos relatos de islamofobia, sobretudo, após o evento ocorrido nos Estados Unidos. Mas a partir de outubro de 2023, quando se iniciou o conflito entre Israel e o Hamas, com retaliações à população palestina, as notificações de casos de islamofobia no Brasil aumentaram 900% de acordo com a Anaji, a Associação Nacional de Juristas Islâmicos. As maiores vítimas, assim como em todo o mundo, são as mulheres.

Há muita carência de solidariedade, de caridade e de humanidade algo que, certamente, as verdadeiras religiões podem amenizar.

Acredito que o preconceito contra os muçulmanos pode ser combatido de duas formas e uma delas se dá por meio da informação. Acredito que muitos brasileiros não conhecem o verdadeiro Islam.

Sem qualquer tentativa de atrair fieis ou algo do tipo, a Federação das Associações Muçulmanas do Brasil, entidade da qual sou vice-presidente e está em atividade desde 1979, vem investindo ininterruptamente em combater a islamofobia por meio da disseminação de informações de qualidade. Marcamos presença em instituições públicas e privadas, escolas e universidades, eventos culturais e inter-religiosos, além de colaborar com a imprensa. São palestras, cursos, debates, encontros, ações solidárias, ou seja, uma agenda intensa e variada para explicar o que é e o que prega o Islam.

E o que é a religião islâmica? Monoteísta e milenar, ela prega a paz, a compaixão, o diálogo inter-religioso e a defesa da vida. Por isso, quem mata um inocente, para o Islam, é como se tivesse matado toda a humanidade. Foi revelada por volta de 622 ao Profeta Muhammad, um comerciante de Meca, cidade da Arábia Saudita, que recebeu ensinamentos divinos por intermédio do anjo Gabriel.

Estamos no Ramadan, o mês sagrado dos muçulmanos. Até o dia 8 de abril, é tempo de jejum, orações, caridade e reflexão. Além da busca pela purificação espiritual, oramos pela paz e tolerância em todo o mundo.

Neste sentido, desejo que todas as religiões se unam em torno de suas igualdades, não das diferenças. Há muita carência de solidariedade, de caridade e de humanidade algo que, certamente, as verdadeiras religiões podem amenizar. E que ninguém se veja privado de professar a sua fé por qualquer motivo, especialmente por medo do preconceito. Inclusive, algo que todo Estado laico de Direito, como é o Brasil, deve garantir a quem aqui nasce e vive.

Ali Zoghbi, formado em Jornalismo, Economia e Pedagogia, é vice-presidente da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (FAMBRAS). É brasileiro, filho de libaneses.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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