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Dias atrás, o papa Francisco chamou a atenção por ter falado algo que todos os católicos já sabem: que os sacramentos da Igreja só podem ser considerados válidos mediante alguns requisitos prévios. No caso do matrimônio, por exemplo, o sacramento pode ser considerado nulo desde o início caso um dos cônjuges falte com a verdade quanto ao desejo de permanecer casado por toda a vida ou de ter filhos.

O papa dizia que nossa atual cultura é do provisório e do descartável, e que, nascidos e criados em meio a essa cultura, mesmo buscando o sonhado matrimônio por toda a vida, alguns casais não têm condições de firmar compromissos duradouros de forma consciente. Até há boa vontade dos cônjuges, mas a falta de plena consciência do propósito firmado pode tornar o matrimônio nulo desde seu início.

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Penso que o papa está certo em alertar-nos para isso. Mas também penso que somos capazes de tomar consciência desse problema e trabalhar para que cada vez mais casais cheguem ao matrimônio sabedores do seu real significado e das implicações de sua decisão de casar sacramentalmente. Nesse sentido, a Igreja e a Pastoral Familiar têm um grande desafio ao se propor a anunciar que a cultura do descartável e do provisório deve ser substituída por uma verdade única, permanente e imutável, capaz de dar sentido sobrenatural à união entre um homem e uma mulher.

Temos uma sede de infinito, percebemos e buscamos sempre o sentido transcendente da realidade

Por mais que nossa ciência, limitada e mutante em si mesma, às vezes insista que não há uma verdade absoluta, que tudo o que sabemos é provisório, sabemos, no nosso íntimo, haver algo que ultrapassa a nós mesmos, maior do que podemos processar em nossa inteligência. Tanto é assim que muitos buscam o matrimônio católico sem nem mesmo compreender bem o significado dos sacramentos da Igreja. Atribuo esta busca à necessidade de reconhecimento social, à cultura ocidental, até a um sonho carregado de romantismo, mas, especialmente, ao desejo por algo mais que possa contribuir com a realização do desejo de que o amor do casal seja “até que a morte os separe”.

Sejamos crentes ou não, temos uma sede de infinito, percebemos e buscamos sempre o sentido transcendente da realidade. Só isso já é suficiente para não excluirmos a possibilidade de existirem valores que são imutáveis, independentemente dos fatores externos ou da história. São esses valores definitivos que podem marcar nossas escolhas.

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É isso o que acontece com o matrimônio. A real compreensão do significado do matrimônio, de seu valor definitivo, permite que eu seja capaz de dizer um “sim” eterno e mantê-lo todos os dias até minha morte, mesmo em meio às dificuldades cotidianas e fragilidades, numa renovação constante do amor integral que dou a alguém que escolhi e que me escolheu.

Uma coisa tão provisória como um “sim” pode se tornar definitivo porque é sinal, porque está revestido de um significado transcendente de alguém divino que nos ama infinitamente, como uma mãe ama seus filhos, como um pai ama seus filhos, como um marido deve amar sua esposa e vice-versa.

Mesmo em um mundo que cultua o provisório, posso, sim, ter a definitiva decisão de amar minha esposa todos os dias, nas conquistas e nas fragilidades, alegrias e tristezas. Para isso, preciso mirar na eternidade, na Verdade que transcende nossas existências finitas, na Ressureição de Cristo que vem depois da cruz. Apenas dessa forma posso viver o sacramento do matrimônio de forma a alcançar a plenitude da vida e do amor.

Paulo Cesar Starke Junior, casado há 16 anos, é membro da Pastoral Familiar da Arquidiocese de Curitiba.