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O subsolo do estado do Paraná esconde riquezas que vão muito além de minerais como o ouro e da prata do passado e guarda capítulos preciosos da história mineral brasileira. Hoje, rochas que cobrem boa parte do estado ganham destaque como aliadas da agricultura e do combate às mudanças climáticas. Do brilho do ouro às tecnologias verdes, o Paraná vive atualmente uma nova era na exploração de seus recursos naturais.
Desde os séculos XVI e XVII, as serras e vales do território paranaense atraíram bandeirantes e colonizadores em busca de riquezas naturais. O ouro foi um dos primeiros alvos, impulsionando os caminhos coloniais e o surgimento de povoados no interior. A prata, explorada sobretudo no Vale do Ribeira, e os diamantes em Tibagi, marcaram o auge da mineração histórica, movimentando fluxos econômicos e consolidando a ocupação territorial na região.
Mas se o passado foi marcado por metais e pedras preciosas, o presente aponta para outro tipo de riqueza e os tesouros minerais do Paraná se apresentam sob nova forma: os agrominerais. O Paraná é coberto por uma das maiores províncias magmáticas do mundo — a Paraná-Etendeka —, que domina grande parte do território estadual, desponta como promissora fonte de agrominerais, composta principalmente por rochas basálticas. E é nesse solo que o estado encontra hoje seu novo tesouro. Esses basaltos são ricos em nutrientes como potássio, cálcio, ferro e magnésio. Com isso, vêm sendo usados como remineralizadores de solo, como insumos estratégicos para uma agricultura mais sustentável, eficiente e menos dependente de fertilizantes químicos importados. Trata-se de uma inovação que une ciência, agricultura e soberania alimentar.
Os basaltos paranaenses guardam ainda outro papel decisivo no futuro da Terra: sua capacidade de capturar e fixar o dióxido de carbono (CO₂) atmosférico, ajudando a combater a crise climática. Em contato com o dióxido de carbono (CO₂), os minerais presentes nos basaltos podem formar compostos estáveis, como os carbonatos, que sequestram carbono da atmosfera de forma permanente. É a chamada geoengenharia do clima, que pode transformar pedreiras em aliadas do planeta. Em certos contextos, formações secundárias de calcário nessas rochas indicam caminhos para potencializar tecnologias de captura e armazenamento geológico de carbono, fundamentais no enfrentamento da crise climática global.
Nesse cenário, o papel do geólogo ganha protagonismo. Mais do que escavar o passado, esses profissionais desvendam o presente e projetam soluções para o futuro — ao buscar minérios estratégicos, na geração de fertilizantes naturais ou na construção de rotas tecnológicas para descarbonizar a atmosfera. Esses profissionais hoje atuam na vanguarda da sustentabilidade, desenvolvendo soluções para a agricultura regenerativa e tecnologias de descarbonização.
José Augusto Simões Neto, doutor em Geologia pela UFPR, Especialista em Recursos Minerais e atual Chefe do Serviço de Fiscalização da Agência Nacional de Mineração ANM-Paraná.