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Mister Pope é um inglês à antiga. Até agora não admite ser europeu e sua amada Albion é The Island, a Ilha. Quando era jovem, leu a manchete de um grande diário inglês: "Nevoeiro no Canal Inglês. A Europa está isolada!" e até hoje acredita que, quando o Canal Inglês (Canal da Mancha só para nós, ignoramus em história e geografia) "fecha", só existe um bastião de civilização em funcionamento: The Island.

Por isso tudo, Mr. Pope ficou perplexo com a notícia de que o Brasil, aquele país exótico cheio de índias nuas, e que, por artes do destino, não foi uma colônia inglesa, havia superado sua amada pátria como sexta maior economia do mundo.

Mr. Pope, no passado, morou no Brasil e guarda ricas lembranças daquela época. Com o auxílio do neto e da internet, resolveu pesquisar as razões desse feito milagroso. Lembrava-se, por exemplo, das cidades europeias da Serra Fluminense, com suas ruas manicuradas; Nova Friburgo, pela qual nutria especial simpatia, pois sua família era originária de Freiburg e, criada para receber colonos suíços, havia sido destruída no início de 2011 por chuvas torrenciais, para desgosto de Mr. Pope. Como estaria agora a cidade? E Teresópolis? No caso dessa última, havia até uma ponta de orgulho nacional, pois a cidade nasceu como uma fazenda modelo de um português de origens inglesas. A família imperial brasileira ficou tão encantada com as maravilhas da cidade serrana, que esta acabou recebendo o nome da imperatriz Teresa Cristina, mulher de dom Pedro II.

O neto de Mr. Pope encontrou imagens de Nova Friburgo totalmente destruída, mas pensou consigo mesmo: "Isso é matéria velha, requentada de jornal". Mal sabia ele que as imagens são atualíssimas e que passado um ano nada ou quase nada se fez para reparar os danos da natureza.

De passagem por um site informativo, Mr. Pope descobriu que na capital de um dos estados brasileiros duas crianças corriam o risco de morrer por falta de uma UTI neonatal. Mais absurdo ainda lhe pareceu o fato de que uma capital de estado só tivesse 20 leitos deste tipo para toda a população e que a burocracia criativa brasileira havia identificado dois leitos para que as crianças não morressem. O único problema é que ficavam a 500 quilômetros de distância do lugar em que moravam os pacientes.

Mr. Pope respirou aliviado. Um país que em um ano foi incapaz de recuperar ruas e encostas destruídas pela chuva; que tem de procurar leitos neonatais a 500 quilômetros de distância das crianças necessitadas; que tem uma assistência médica-hospitalar de padrões africanos subsaarianos, nunca poderá ser comparado à sua amada terra natal, indiferentemente do que digam as estatísticas.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em administração da PUCPR, com a colaboração de Carolina Castor Lohmann.

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