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A afirmação de que Ney Braga apoiou “silenciosamente, desde 1962, os militares que planejavam depor o presidente da República João Goulart”, como afirmou o ex-secretário de Segurança Ítalo Conti, não é verdadeira. No livro Ney Braga: Tradição e mudança na vida política, o ex-governador do Paraná conta que se comprometeu com a revolução em 30 de março de 1964. E os fatos históricos confirmam a versão do ex-governador.

Ney foi um dos governadores que enviaram um apelo ao Congresso para que fosse estudada a possibilidade do retorno de Jânio Quadros à Presidência, conforme noticiou o jornal Última Hora em 26 de agosto de 1961. Quando a renúncia se tornou irreversível, a adesão de Ney à causa legalista foi da maior importância para a posse de João Goulart, como atesta a obra João Goulart: Perfil, discursos e depoimentos (1919-1976), de 2004.

Ney se afastou de João Goulart com a polarização das disputas políticas e se comprometeu, em 30 de março de 1964, com a manutenção do regime democrático a qualquer preço

Sylvio Sebastiani, petebista histórico, refutou a afirmação de Conti fazendo referência ao acordo que Ney Braga fez com o PTB quando ele se elegeu governador, conforme o jornal Impacto Paraná de 29 de abril de 2009. O acordo dava o comando político de seu grupo ao PTB nos municípios em que o prefeito pertencia àquele partido. Uma carta enviada por Ney ao PTB em 22 de fevereiro de 1963 confirmou a disposição de se manter o acordo a pouco mais de um ano antes da revolução de 1964. Se Ney já estivesse comprometido com qualquer grupo opositor a João Goulart, aquela carta o colocaria em uma situação incômoda.

Ney se afastou de João Goulart com a polarização das disputas políticas e se comprometeu, em 30 de março de 1964, com a manutenção do regime democrático a qualquer preço, o que também se pode confirmar no livro Ney Braga: Tradição e mudança na vida política. Mas Ney Braga não foi o único político paranaense a apoiar os militares. O mesmo livro citado cima informa que Paulo Pimentel apoiava Costa e Silva. Jayme Canet Júnior se declarava fã incondicional de Geisel, segundo a revista Veja de 7 de abril de 1982. José Richa votou em Castello Branco para presidente, o que está registrado no Diário do Congresso Nacional de 12 de abril de 1964, e, quando prefeito de Londrina, contou com vultuosos financiamentos do governo militar mesmo sendo filiado ao MDB, como diz o site da prefeitura londrinense. Sem mencionar que grande parte da imprensa celebrou a saída de João Goulart da presidência. O Globo, por exemplo, publicou um editorial intitulado “Ressurge a Democracia” no dia 2 de abril de 1964.

Ney não apoiou os governos militares em todos os seus momentos. Ney foi contra a cassação do deputado Márcio Moreira Alves e contra o Ato Institucional Número 5. Por isso, foi quase cassado por Costa e Silva (Veja, 20 de julho de 1977) e por Médici (O Globo, 6 de agosto de 2014). Ney Braga também contrariou Figueiredo apoiando as Diretas Já e Tancredo Neves para presidente, de acordo com O complô que elegeu Tancredo, de 1985.

Novamente quanto à afirmação de Ítalo Conti, é importante lembrar que Ary Veloso Queiroz, genro de Ítalo, foi testemunha no Inquérito Policial Militar contra Oscar Alves, genro de Ney Braga. Esta informação está na pasta do Dops referente a Oscar Alves, no Arquivo Público do Paraná. Esse fato me faz questionar se Ítalo era realmente um dos colaboradores mais próximos de Ney Braga. E mesmo o pesquisador José Carlos Dutra, autor de A revolução de 1964 e o movimento militar no Paraná: A visão da caserna, que entrevistou Ítalo, concluiu que a adesão de Ney à revolução foi tomada de véspera.

Marcus V. Braga Alves é professor associado da Universidade de Akron (Ohio, EUA).
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