Acreditar que experiências desastrosas ficaram para trás no final de um ano repleto de desafios é algo mais que necessário para que se possa prosseguir em projetos de um mundo melhor. Isso não tem necessariamente relação com religião, mas, certamente, requer a crença de que o ser humano é mais do que ganhos e perdas, sucesso e fracassos, subidas e descidas.
Saber que a cada dia se pode recomeçar é reconfortante, mas também desafiador porque o tempo organizado pelo calendário gregoriano carrega chances de construir novas histórias ao mesmo tempo em que marca o final de saborosas conquistas. Infelizmente, as desventuras parecem demorar mais em cena do que as alegrias e realizações.
Talvez o grande desafio que se instaura a cada ano seja entender que tudo passa e nada é para sempre. Não há quem resista ao tempo, à força inesperada deste senhor que move céus e terras penetrando profundamente em cada ser. Ao mesmo tempo em que se sabe de sua existência, se faz esquecido, e a vida se desenrola, e sentimos o tempo às vezes como um peso sobre costas ou mesmo como um aliviador maravilhoso de tensões.
Cada ano novo traz a sensação de que o cronômetro foi zerado, ainda que para isso todos precisem envelhecer. Assim, parece é que o tempo é sobrenatural e que para acompanhá-lo é preciso ser mais do que um corpo a ser carregado. Tempo é movimento, mudança, alteração, oportunidade, construção, mas também, esperança, ânimo, coragem, ousadia, desejo.
A “mobilização” anunciada por um novo tempo é da ordem do impalpável, mesmo que a princípio possa ser avistada num calendário. Faz com que se acredite que está sendo inaugurada uma outra vida que comporta novas ações, perspectivas, necessidades, tudo novo, sem dever obediência à coerência construída nas tantas incoerências de uma dinâmica social que transforma tudo em tangível e mensurável.
Quem dera os novos dias possam ser realmente diferentes do que têm sido e que cada ser atento à oportunidade de ser melhor e mais feliz, não somente para si, possa se enxergar no outro e estender-lhe a mão. Sem nós e eles, todos poderão abandonar intransigências reacionárias e inaugurar um tempo de histórias potentes em vínculos afetuosos, eternos enquanto durarem. Que venha o novo!
Sueli Abreu Guimarães é doutoranda em Educação (FACED/UFBA) e membro do grupo CORPO.
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