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Persistindo a indiferença da comunidade internacional com os palestinos, é de se esperar um futuro duvidoso e até trágico para eles. Nem os desejos políticos da população palestina são respeitados. A situação de conflito entre Fatah, da Cisjordânia e Hamas, de Gaza , é fruto da indiferença à democracia quando é para favorecer esse povo.

Em janeiro de 2006 foi eleito democraticamente e com a supervisão de observadores internacionais, Ismail Haniyeh, do Hamas. Entretanto, Israel, Estados Unidos e a comunidade internacional se apressaram em dar as costas a este homem e seus votos, forçando a criação de uma situação insustentável para governar; impedindo-o até de tomar posse. Eu diria que obrigaram o Hamas a retornar às armas, como sua única opção. Veja-se o embargo de salários, a situação difícil do povo de Gaza, o fomento às tensões internas por parte de Israel e de seu aliado incondicional, corte de combustível, tratamento militar à população civil, construção de estradas exclusivas para judeus em territórios palestinos e a construção do muro da Cisjordânia. Tais atitudes seriam consideradas criminosas se o povo não fosse o palestino. Há uma contradição inerente na política do governo de Israel, que encontra resistência de uma parcela considerável da população judaica. O boicote anunciado ao Hamas não deixa de ser uma declaração de guerra. Como, então, não esperar violência? O povo palestino é prisioneiro em suas próprias terras. Esta é uma verdade que só pessoas de bom senso político percebem. É o exemplo do pacifista judeu Ury Avney, incansável pelo anseio de uma paz duradoura.

Me sinto envergonhado como ser humano quando vejo soldados israelenses, fortemente armados, agredindo com insultos e empurrões mulheres e crianças palestinas indefesas e, o mais insólito, em suas próprias terras. Me sinto na mesma situação quando vejo civis judeus e palestinos sendo assassinados.

Será que passa na cabeça de Ehud Olmer o pensamento da década de 40 do Sionista Trabalhista A.D. Gordon, de que o povo árabe é desprezível? Tudo indica que sim.

Divulga-se pouco que o Hamas presta serviços sociais importantes à população. É mais aceito pelo povo porque participa ativamente para minimizar a miséria. Não se noticia que o Fatah de Mahmud Abbas é corrupto e nada oferece ao povo. Não houve visão política estratégica quanto às conseqüências de subestimar a eleição vencida pelo Hamas. Não há povo que não goste de autodeterminar-se. As armas não calam os sentimentos nativistas.

Já há quem fale em um governo do Hamastão – ou Hamalândia – e outro da Cisjordânia. Particularmente, acho difícil aceitar esta hipótese. Mas nada é impossível quando se trata de prejudicar os palestinos. Assim, fica distante o sonho de um Estado palestino com o retorno dos refugiados a suas casas, ou à de seus pais ou à de seus avós, como determinou a resolução 1945 da ONU.

Sou cético quanto ao futuro, tanto do povo como de um Estado Palestino, se Israel não reconhecer concretamente, e não apenas formalmente, o povo nativo.

Para isto é necessário erradicar o preconceito e o radicalismo da política do Estado de Israel, da sempre desastrosa intervenção americana e da incoerência da comunidade internacional em se tratando dos direitos dos árabes e, particularmente, dos muçulmanos.

A atitude americana de suspender o embargo ao povo palestino veio tarde e representa muito pouco porque está deslocada no tempo. Deveria ter vindo antes. Havendo justiça, pode acabar a hostilidade na região, e até o surgimento de um Estado Palestino.

Jamil Ibrahim Iskandar é filósofo com pós-doutorado na Universidade Complutense de Madri.

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