Destacamento do exército na cidade de Manbij, perto da fronteira turca.| Foto: AFP PHOTO / HO / SANA

O vice-presidente americano, Mike Pence, o secretário de Estado, Mike Pompeo, e o assessor de segurança nacional, Robert O’Brien mostraram que sabem como lidar com a Turquia quando anunciaram, na quinta-feira passada, que tinham conseguido adiar por cinco dias o avanço militar turco sobre os territórios curdos na Síria, próximos à fronteira turca. As autoridades americanas se reuniram por quase cinco horas com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, em Ancara, para conseguir o acordo. O presidente Donald Trump elogiou o acerto, tuitando que “este é um grande dia para a civilização” após Pence fazer o anúncio. O objetivo do cessar-fogo é dar às forças curdas tempo para realizar uma retirada ordenada e pacífica, criando uma área neutra entre eles e os turcos.

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Vai funcionar? Veremos. Na pior das hipóteses, não custa nada. Na melhor, o acordo levará a um entendimento mais duradouro que evite um banho de sangue desnecessário e traga mais estabilidade a uma parte do mundo que precisa disso desesperadamente.

Não parece que, com isso, Washington esteja querendo colocar Band-Aid em uma ferida autoinfligida. Ao contrário do que as primeiras notícias diziam, Trump não aprovou a amplamente condenada incursão turca. Pelo contrário – os americanos passaram meses buscando meios de evitá-la. Mas, quando Erdogan soltou os cães de guerra, as primeiras afirmações públicas de Trump foram um desastre midiático. Tentando fazer uma limonada com os limões, ele errou feio. Mas as ações de Trump, essas, sim, foram totalmente acertadas.

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O presidente tem razão em colocar a segurança das tropas americanas em primeiro lugar. Não fazia o menor sentido colocar o pequeno contingente americano no meio do fogo cruzado entre turcos e curdos. E ele tinha razão ao tentar atenuar a bagunça feita por Erdogan.

Os EUA têm toda a intenção de seguir trabalhando com seus parceiros para impedir que o Estado Islâmico volte com força

O cessar-fogo, se é que o fogo cessou mesmo, está longe de ser a solução perfeita. Ainda que a Turquia consiga estabelecer essa zona neutra e levar alguns refugiados de volta para suas nações, nada disso chegará perto de acabar com a guerra civil síria, nem de garantir um futuro para os curdos naquele país. Mas os Estados Unidos usaram a influência e a capacidade limitadas que têm, de forma criteriosa e apropriada, para tentar construir algo.

As reações exaltadas à ação turca são compreensíveis. Ela desalojou vários civis, causou sofrimento desnecessário e levou a atos injustificáveis de violência. E nada disso altera o balanço de forças na guerra civil síria, um conflito que já trouxe sofrimento e violência ao povo desse país por mais de oito anos.

Os curdos podem recuar, mas continuam a ser uma força considerável. O homem forte síria, Bashar al-Assad, não vai retomar o controle do país todo num futuro próximo. E, por mais que haja previsões loucas a esse respeito, a Rússia não terá um novo trampolim para o Oriente Médio. O regime sírio sempre esteve sob influência russa. Mas Moscou não tem como usar sua posição ali para expandir essa influência – e os russos nem estão dispostos a derramar sangue e dinheiro para conquistar mais território para Assad. Vladimir Putin, na verdade, estaria disposto a lutar até o último sírio ou iraniano, mas não a colocar mais um único russo na linha de frente.

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O Irã, por sua vez, já está bastante ocupado: luta uma guerra por meio de terceiros no Iêmen e tem de lidar com a crescente insatisfação dentro de seu território. E, ainda que muito tenha sido dito sobre um potencial ressurgimento do chamado “califado” do Estado Islâmico, nenhum dos lados parece interessado em ver o retorno do Estado terrorista.

A redução da presença americana na Síria levou alguns a concluir que este era o fim da influência dos Estados Unidos – e das missões contra o terrorismo – no país. Mas, à medida que sabemos mais sobre o plano de Trump, essa conclusão parece cada vez menos válida. Os EUA têm toda a intenção de seguir trabalhando com seus parceiros para impedir que o Estado Islâmico volte com força.

Os Estados Unidos não sairão do Oriente Médio tão cedo. A paz e a estabilidade da região continuam sendo fundamentais para a América. A maior ameaça a essa estabilidade continua sendo o Irã. Só os EUA podem liderar os esforços para domar o regime, e não têm como fazê-lo à distância, por controle remoto.

É verdade que Trump não quer carregar o fardo sozinho; ele deseja que outros também assumam suas responsabilidades. Ele quer mais segurança coletiva e menos papel de babá para os americanos. E o presidente rejeita completamente a ideia de que a América possa ou deva arbitrar ou resolver todo tipo de problema em todo lugar. No fim das contas, o presidente quer uma presença mais comedida e sustentável. Isso está muito longe de os Estados Unidos estarem abandonando seu envolvimento, ou se tornando isolacionistas. Se Trump quisesse pular fora da região, nem teria se dado ao trabalho de mandar o primeiro escalão à Turquia. Ele o fez porque sabe que os Estados Unidos não podem liderar se não estiverem lá.

O cessar-fogo pode não resolver muito, mas mostra que os Estados Unidos não planejam deixar os amigos na mão, nem fugir da responsabilidade.

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James Jay Carafano, especialista em segurança nacional e desafios da política externa, é vice-presidente de Estudos de Política Externa e de Defesa, e diretor do Kathryn and Shelby Cullom Davis Institute for International Studies. Tradução: Marcio Antonio Campos.

© 2019 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.