• Carregando...
Sala de aula.
Imagem ilustrativa.| Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná

R$ 700 bilhões: esse é o custo invisível que estamos deixando para os mais de 35 milhões de estudantes matriculados nos ensinos fundamental e médio no Brasil. Os desafios da geração que enfrentou a paralisação completa das aulas presenciais durante a pandemia estão sendo escritos agora. São nossa responsabilidade. E podem ser ainda maiores se continuarmos com a atitude negligente e covarde que tivemos com a educação.

O valor foi calculado por pesquisadores do Insper. Os R$ 700 bilhões correspondem à diminuição da renda ao longo da vida dos estudantes, em função da queda na proficiência observada por conta do fechamento das escolas em 2020. Nossas crianças e adolescentes aprenderam menos e guardaram menos do que o esperado em um ano letivo normal. Condenamos toda uma geração. Mas como deixamos isso acontecer?

Em março de 2020, quando a pandemia do novo coronavírus atingiu proporções globais, países de todo o mundo fecharam atividades públicas, incluindo escolas. Havia o medo de que as escolas pudessem ser um foco perigoso de contágio, visto que crianças são importantes transmissores de doenças respiratórias em geral. Talvez no início dessa crise, quando informações ainda eram escassas e incertas, essas medidas pudessem ser justificadas pelo princípio da precaução. Não conhecíamos tão bem o inimigo.

Mas, com o passar do tempo, a ciência cumpriu sua função. Pesquisas foram realizadas e os dados começaram a vir à tona. Descobrimos que as crianças não eram afetadas pela Covid-19 com a mesma frequência ou intensidade de adultos ou idosos: apenas 1% a 3% do total de casos, e risco absoluto de morte de 2 em um milhão. Descobrimos que as crianças também transmitem muito menos os vírus. Descobrimos as atividades com maior risco de contágio, e as aulas não estavam entre elas: estudo realizado pela Universidade de Zurique com escolas em São Paulo mostrou que a reabertura das escolas não teve impacto na transmissão. Com isso, os países foram ajustando suas medidas e adotaram a política de que as escolas deveriam ser as últimas a fechar e as primeiras a reabrir. Ao menos os países que levam a educação a sério.

A França reabriu as escolas depois de 43 dias. Portugal, 67. No Uruguai foram apenas três meses sem aulas presenciais. Já nossos vizinhos no Chile levaram mais tempo, 199 dias. E o Brasil? Incríveis 279 dias. Muitos professores se esforçaram para manter as atividades funcionando on-line da melhor maneira possível, mas o fato é que a queda do ensino e a evasão escolar foram duras. Conforme a pesquisa Pnad Covid 2020, “5.075.294 crianças e adolescentes de 6 a 17 anos declararam não frequentar a escola ou que frequentavam a escola, mas não tiveram atividades escolares disponibilizadas na semana anterior à entrevista”.

A gestão da educação durante a pandemia merece ser reprovada por falta. E a geração deixada para trás pode apontar o dedo para alguns grupos sindicais, que não mediram esforços para impedir o retorno das aulas e o acesso das crianças à educação. Com campanhas de terrorismo emocional, e ignorando todas as experiências internacionais e os dados científicos, conseguiram pressionar gestores e boa parte da opinião pública a manter as escolas fechadas. Disseram que as escolas abertas colocariam as crianças em risco de vida. Nada mais longe da verdade. Em Florianópolis, a greve destes negacionistas levou as escolas municipais a permanecerem fechadas por mais de 300 dias.

Não fosse a luta de incontáveis (e incansáveis) mães, pais e educadores, que entenderam a gravidade da situação e as consequências das escolas fechadas, talvez o dano fosse ainda maior. Hoje, a maior parte das escolas funciona em regime híbrido, combinando atividades on-line e presenciais. Mas, com todo o tempo perdido, isso não é suficiente. Precisamos do retorno integral das aulas presenciais. O futuro do país – e das nossas crianças – está em jogo.

Bruno Souza é deputado estadual pelo partido Novo em Santa Catarina.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]