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Pazuello
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

“É simples assim: um manda e outro obedece.” (Eduardo Pazuello, em 22 de outubro de 2020)

A frase acima foi proferida por Eduardo Pazuello, após o presidente Jair Bolsonaro tê-lo desautorizado publicamente, ao mandar cancelar o protocolo de intenções de compra de 46 milhões de doses da vacina Coronavac, anunciado no dia anterior pelo ministro, em uma reunião com governadores.

Já em meados de maio, tão logo tomou posse como ministro interino da Saúde, Pazuello alterara – por determinação de Bolsonaro – o protocolo da pasta junto ao Sistema Único de Saúde (SUS) para incluir a cloroquina no tratamento de pacientes com Covid-19, coisa que seus dois antecessores se recusaram a fazer.

Eduardo Pazuello, o Obediente, ministro da Saúde de Jair Bolsonaro, em pronunciamento feito em 17 de janeiro, declarou: “Não podemos, em hipótese alguma, relaxar as medidas preventivas: uso de máscaras, álcool em gel na mão, distanciamento social, [evitar] aglomerações, e todas as medidas que a gente conhece”. Esta afirmação de Pazuello surpreende, porque ela contraria o discurso e o comportamento de Jair Bolsonaro desde o começo da pandemia. Se tivesse feito esta afirmação 30 dias atrás, Pazuello teria sido demitido em desgraça por Jair Bolsonaro.

Mudou Bolsonaro? Parece que a realidade se impôs de forma avassaladora sobre o presidente; daí a desenvoltura de Pazuello no desabalado pronunciamento deste domingo.

“Uso de máscaras, álcool em gel na mão, distanciamento social, evitar aglomerações” etc. é tudo o que Jair Bolsonaro jamais respeitou. Aliás, sempre debochou dessas cautelas e incentivou, por palavras e atos, o contrário. Mas agora, ante o quadro assumido pela pandemia no mundo, e principalmente no Brasil, Bolsonaro parece ter jogado a toalha: não fala mais em “remédio” para a doença, não nega mais a vacinação ao dizer que não se vacinará, não mais afirma que Covid-19 é só uma “gripezinha” para a qual não será necessária a vacinação, não mais acusa de “maricas” quem pretende se vacinar, não ameaça mais a população com mudanças genéticas (“transformação de gente em jacaré”). Em suma, amarelou! Amarelou e se desmoralizou. Desmoralização, mesmo sem considerar a sua prévia desmoralização por aderir ao Centrão e pela constrangedora convivência e conspiração com corruptos.

A visão diária televisiva de 52 países vacinando seus cidadãos não pode mais ser enfrentada com posturas arrogantes e frases imbecis que ofendem a ciência e a história vencedora da vacina no mundo: sarampo, raiva, poliomielite (o antigo flagelo norte-americano dos verões), hepatite A e B, tétano, difteria... São 13 vacinas que toda criança deve tomar.

Quem afirmou, em 21 de outubro, que “não compraria a vacina do Doria” ficou sem opção (por absoluta incúria) e agora quer tirar a primeira foto com o primeiro vacinado, mesmo que a vacina seja produzida na China, ou no Butantan de São Paulo, sob a iniciativa de Dória. A primeira foto com o primeiro vacinado será, se ocorrer, a mais rematada demagogia política de Jair Bolsonaro.

Mas há um probleminha: todo o estoque (6 milhões de unidades) de vacinas está em São Paulo. Foram produzidas pelo Butantan ou importadas por São Paulo, enquanto Bolsonaro dizia que não as compraria. Agora ele está requisitando todo o estoque; uma desmoralização que a seita bolsonarista não contará, ou arrumará uma versão para explicar.

A grande tragédia é que, por conta da incúria bolsonarista (quem salvava da Covid-19 era a hidroxicloroquina, lembram?), o Brasil, com uma população de 210 milhões de habitantes, conta com apenas 6 milhões de unidades, capazes de imunizar (hoje) somente 3 milhões de pessoas, ou 1,4% da população nacional.

Pelo que se relatou acima, existe maior crime de responsabilidade que um governante possa cometer? Por muito menos Dilma Rousseff foi justamente impedida da presidência da República. Pense nisso.

José J. de Espíndola é engenheiro mecânico, mestre em Ciências em Engenharia, doutor (Ph.D.) pela Universidade de Southampton (Inglaterra), doutor “honoris causa” pela UFPR e professor titular aposentado da UFSC.

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