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| Foto: Marcos Tavares/Thapcom

Poucos anos antes de a primeira edição da Gazeta do Povo circular, o brasileiro Alberto Santos Dumont realizava o primeiro voo de um avião em Paris. É quase inacreditável, inalcançável o que mudou de lá para cá.

A vida das pessoas que trabalham ou das que geram empregos, a vida daqueles que administram essas relações, criando, gerenciando ou aplicando as normas regentes, comporta difíceis escolhas. Existem metas locais, regionais, nacionais e mundiais no caminhar das relações de trabalho.

Dentre tamanhos rumos, penso no premente desafio da geração de empregos no Brasil para jovens e para pessoas da melhor idade. Aqueles precisam de inserção no trabalho; estes, de menos descartabilidade, nos termos de Alvin Toffler no sempre atual O choque do futuro. Sempre foi difícil para um jovem na tenra idade, ainda com maturidade incipiente, optar por uma profissão. Esse nível de dificuldade aumenta na mesma proporção em que se reduz nosso grau de compreensão com as mudanças diuturnas.

A inserção da tecnologia nos meios de produção influencia diretamente as relações de trabalho

É certo que profissões deixarão de existir, mas não sabemos o tempo que levará para isso ocorrer. E surgiram outras que nem sequer passam pelo nosso imaginário. Quem, pouco tempo atrás, conceberia uma biblioteca inteira em um chip? O vocabulário tecnológico passa a fazer parte do nosso dia, e cada vez mais fará parte não de nossa língua, mas de um padrão global de comunicação.

A inserção da tecnologia nos meios de produção influencia diretamente as relações de trabalho. Pedir um sanduíche por uma tela touch screen significa que há máquinas ocupando o lugar das pessoas que não farão mais aquela atividade. A evolução tecnológica é inevitável. A pergunta central é: que tipo de habilidades teremos de ter, desenvolver ou aprimorar para garantirmos nossa prosperidade e de nossas famílias?

A busca de soluções criativas será indispensável, fruto não só de um olhar para a tecnologia, mas especialmente do relacionamento com outras pessoas. A tecnologia não substitui a empatia, os olhos nos olhos, o calor humano e o aspecto sentimental e emotivo das relações; a relação tecnológica é meramente técnica. Continua a ser indispensável o relacionamento interpessoal, sem abreviações em aplicativos, com palavras faladas inteiras, algo cada vez mais raro. Criar oportunidades em um ambiente mais digital significa que controlar o estresse e a ansiedade serão pré-requisitos básicos.

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Leia também: Se o mundo muda, a escola precisa mudar (artigo de Juliano Costa, publicado em 3 de fevereiro de 2019)

Mas, para nosso alento, existem conceitos que não mudam. Desde o princípio, o sentimento e o conceito de dignidade e honestidade não mudam. O mundo digital pode dominar o mundo, atender e criar necessidades, mas o centro da atenção não pode se perder da figura do homem. As condutas e comportamentos, presenciais ou digitais, terão como DNA a ética do próprio homem e serão rapidamente identificadas, trazendo a seus atores sociais os ônus e os bônus de suas manifestações.

Desde sempre, o trabalho não é apenas aquilo que o homem faz para seu sustento; também lhe dá dignidade. O trabalho assume inúmeras e novas formas e modelos, mas o conceito de sustentabilidade e dignidade sempre se farão presentes, mesmo quando a robótica e a inteligência artificial tentam roubar a cena.

O Brasil é um dos países que ostenta maior mobilidade social, o que deve acentuar-se nos novos tempos. O que faremos com nosso futuro nas relações de trabalho depende do nível de soluções criativas que encontraremos, pois de nada adianta suprimir a evolução tecnológica que caminha em progressão geométrica.

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Leia também: O Brasil, a automação e o futuro do trabalho em Davos (artigo de Arnaldo Francisco Cardoso, publicado em 22 de janeiro de 2019)

As soluções criativas residem no desenvolvimento de novas habilidades, centradas na ética, no respeito, na honestidade, na dignidade do homem e no valor do fenômeno trabalho. Somente assim os desafios serão vencidos, atendendo a critérios de dificuldades locais, regionais e globais, apostando nas relações humanas e não somente na atualização tecnológica para que o futuro nos traga prosperidade pelo trabalho.

São novos tempos. Novas tarefas. Novas habilidades. Bem vindo ao futuro!

Marlos Augusto Melek é juiz federal do Trabalho e foi membro da equipe de redação da reforma trabalhista.
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