Não é possível falar de feminismo e sim de feminismos. Feminismo liberal, materialista, estruturalista, pós-estruturalista, pós-moderno, pós-feminismo; um cardápio variado, como demandam as urgências do mundo. Uma história do feminismo? Não, o feminismo tem muitas histórias: vários passados, inúmeros presentes e infinitos futuros.

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O feminismo está fora de moda? Ser feminista não tem mais sentido? Claro que não! O feminismo é luta social pela igualdade entre todos os gêneros (homens, mulheres, transexuais, travestis, transgêneros etc.), pelo fim da violência contra as mulheres e demais minorias sociais-sexuais. Mas o feminismo também é postura teórico-intelectual que ocupa um espaço importante na produção do conhecimento.

Para além dos movimentos feministas históricos e tradicionais, atuantes desde o início do século 20 com importantes conquistas, dentre as quais a luta pelo fim da ditadura militar no Brasil, os novos movimentos feministas trazem novos questionamentos. Por exemplo, a crítica da noção de identidade, pois feministas não são somente mulheres. Sim, o feminismo nasceu como luta das mulheres contra a desigualdade entre homens e mulheres, denunciando as violências de um mundo construído no masculino. Entretanto, atualmente alguns homens reivindicam outros papéis para a expressão de suas masculinidades. Mulheres e homens, heterossexuais, gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis, trangêneros, todos e todas podemos ser feministas.

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Os feminismos que recusam "a mulher" como sujeito do feminismo são responsáveis por novos pontos de vista acadêmicos e por novas formas de ativismo social. Esta é a origem dos movimentos sociais de inspiração queer. Queer é um velho adjetivo em inglês para designar pejorativamente homossexuais, tendo ganhado novo sentido político nas lutas da comunidade gay e lésbica e no universo intelectual contemporâneo. Os movimentos sociais de inspiração queer criticam e tensionam as noções de identidades sexuais fixas e vêm produzindo novidades importantes no campo das reivindicações de direitos das minorias sexuais e da denúncia da violência.

Movimentos como a Marcha das Vadias (no mundo todo), o Femen (no leste da Europa) e o La Barbe (mulheres que se manifestam usando barbas postiças na França) mostram as novas caras do feminismo. Além de denunciar a desigualdade e a persistente violência contra as mulheres, gays, lésbicas, travestis, transexuais e transgêneros, estes movimentos colocam em cena um corpo e uma sexualidade que não têm medo de se mostrar, funcionando como lugar de reivindicação e luta política. A exposição pública dos corpos nus, enfeitados e pintados com mensagens como "meu corpo, minhas regras", "tire seu rosário dos meus ovários" e "lugar de mulher é onde ela quiser" dão novos sentidos políticos a todos/as que se autodenominam como vadios/as e tomam posse de seus corpos e das ruas das cidades. Do mesmo modo, mulheres mostram os seios levantando cartazes contra os rumos econômicos da Europa, ou ainda desfilam suas barbas postiças pelas ruas de Paris, interrompendo o fluxo normalizado de cidade que cala, violenta e assassina mulheres e outras minorias sexuais.

Os novos movimentos feministas mostram que fazer política no presente é colocar em cena o corpo e o desejo. Em outras palavras, o futuro do feminismo já chegou, politizando o corpo, a sexualidade e o desejo como marcas fundamentais da luta social e como matéria intelectual para muitos campos científicos.

Maria Rita de Assis César é professora do Setor de Educação e do programa de pós-graduação em Educação da UFPR.