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O valor do real em relação ao dólar continua em debate devido à manutenção do processo de valorização cambial. A principal causa da valorização da moeda brasileira é a entrada de divisas, ou seja, de moedas estrangeiras no país. Atualmente, essa entrada ocorre devido ao excelente desempenho da balança comercial e da conta capital e financeira. A primeira representa a parte real da economia, ou seja, o fluxo de bens e serviços, enquanto que a segunda detalha o fluxo financeiro.

Utilizando dados das contas externas brasileiras provenientes do Banco Central do Brasil, entre janeiro a maio de 2007 em comparação com o mesmo período do ano anterior, o primeiro ponto que nos chama a atenção é que, nos primeiros cinco meses de 2007, o ingresso de divisas pela conta capital foi muito superior ao mesmo período de 2006: US$ 46,131 bilhões contra US$ 6,817 bilhões. O saldo da conta capital nos primeiros cinco meses do ano corrente foi quase três vezes maior do que o saldo de 2006 inteiro (US$ 16,327 bilhões)!

Em relação ao desempenho da balança comercial, já não se pode dizer o mesmo. Apesar de seu desempenho ainda estar respondendo ao intenso ritmo de crescimento da economia norte-americana e da Ásia, com destaque para a China, o seu saldo entre janeiro a maio de 2007 foi de US$ 16,769 bilhões contra US$ 15,335 bilhões, no mesmo período do ano anterior. Os saldos da balança comercial em ambos os períodos foram suficientes para cobrir o déficit existente na outra parte real das contas externas: da conta de serviços e rendas. Os déficits registrados nesta, para os períodos de análise, foram de US$ 14,805 e US$ 14,981 bilhões, respectivamente.

Os itens da conta capital e financeira que mais se destacam são os fluxos provenientes de investimento direto estrangeiro e investimento em carteira, isto é, em portfólio de títulos do mercado financeiro. Os investimentos em carteira se concentram em títulos de renda fixa, principalmente em títulos públicos. Podemos inferir, desse modo, que a atual política monetária, apesar da lenta, mas contínua, queda da taxa Selic nos últimos 18 meses, ainda mantém a taxa real de juros como uma das mais altas do mundo, atraindo um volume considerável de fluxos de capitais.

Portanto, os principais determinantes da valorização da taxa de câmbio são os fluxos financeiros e não os fluxos reais das transações internacionais, o que contradiz muitas afirmações feitas por analistas econômicos. Num cenário de abundância de capitais internacionais, uma taxa de juros elevada passa a ser um problema, pois além de valorizar a moeda com conseqüências negativas sobre vários setores da economia, o Banco Central ainda é obrigado a retirar o excesso de reais postos em circulação por meio de operações de venda de títulos públicos (aumento de dívida interna), pressionando ainda mais a dívida pública.

O recente processo de valorização cambial e a política monetária restritiva explicam a baixa inflação de 2006 e 2007. Pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que mede os preços na ponta final do consumidor, no varejo, podemos concluir que a inflação não preocupa. Esse índice ficou em 0,28% em junho e no acumulado em 12 meses, em 3,69%, bem abaixo da meta de inflação fixada pelo Banco Central (4,5% ao ano). Portanto, há um considerável espaço de manobra para que continue o processo de redução da taxa Selic, como feito no último dia 18, visto que essa é uma condição necessária para o crescimento sustentável da economia brasileira.

João Basilio Pereima Neto é doutorando em Economia pela UFPR e professor/coordenador de Pós-Graduação em Finanças Corporativas e Mercados Financeiros da UniBrasil. Luciano Nakabashi é doutor em Economia pelo Cedeplar/UFMG e professor adjunto do departamento de economia da UFPR.

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