O papa Francisco, com sua simplicidade e carisma, visitou o Brasil nos dias 22 a 28 de julho, deixando um enorme legado ético e espiritual não apenas para os católicos, mas para todas as pessoas de boa vontade. Hoje, o papa Francisco é considerado, em nível internacional, uma das vozes mais importantes, mesmo não tendo exército, dinheiro ou canais de televisão próprios. A sua força não vem dos exércitos, das armas ou das articulações ou barganhas políticas, mas de sua vida ética e simples, e também de uma Igreja que já tem 2 mil anos de história.

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Um legado que o papa Francisco deixou foi o diálogo com o outro e com o diferente. A Igreja deve buscar o diálogo com as diversas esferas sociais e estar mais próxima dos frágeis, pobres e excluídos da sociedade, como "boa samaritana". Esse aproximar é como o Bom Samaritano que se aproxima não para se engrandecer, mas para doar-se. Assim, a Igreja vai respondendo ao chamado do Senhor Jesus e, ao mesmo tempo, professando a riqueza da fé na prática, como diz São Tiago em sua carta.

Para os políticos profissionais, o papa Francisco ofereceu ensinamentos fundamentais. Falando e vivendo a partir da Doutrina Social da Igreja, que tem 2 mil anos de experiência, o papa ressaltou que o autoritarismo é um caminho que leva somente à desagregação de uma sociedade. Ele apelou para a honestidade com as coisas públicas e para que as pessoas com cargos públicos, os governantes, estejam a serviço do bem comum e preferencialmente dos mais frágeis e vulneráveis. Nessa visita, a ética política foi regada profundamente com os ensinamentos do papa Francisco. Resta agora aos nossos políticos assumir essa caminhada em vista do bem comum e não em vista de projetos pessoais ou partidários.

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O papa insistiu muito na questão das periferias, indo além da periferia geográfica. A periferia dos mais pobres é um elemento fundamental para a prática da Igreja e das autoridades. Mas ele também referiu-se à periferia existencial, que passa pela ética, pelo político, pelo econômico e pela espiritualidade. Muitos perderam o sentido da vida e vivem à margem daquela vida em abundância de que fala Jesus. Assim, o papa faz um chamado à cultura da vida, para que a sociedade e a Igreja possam reacender a esperança na vida humana. O Iluminismo e a modernidade trouxeram muitos elementos positivos à sociedade, com avanços incríveis. No entanto, esses avanços podem, às vezes, substituir a ética pela técnica, deixando um vazio existencial. A ética, a técnica e a ciência devem trabalhar de maneira articulada em vista da pessoa humana em seu todo.

Também o papa deixa um desafio aos padres e pastores; mostra que os religiosos devem doar-se ao povo de Deus na evangelização e não viver uma vida muito fácil. Ficou um recado direto para alguns religiosos que, às vezes, viajam de jatinhos, possuem carros de primeira classe, vivem mordomias com o dinheiro que recebem dos fiéis.

Assim, o legado do papa Francisco é ético e espiritual, por uma Igreja e uma sociedade que vivam o diálogo, que os políticos sejam honestos e a serviço do bem comum, que a sociedade busque valorizar a pessoa humana em sua totalidade e que os religiosos, sejam católicos ou evangélicos, vivam uma vida simples, pois devem estar a serviço do povo de Deus.

Joaquim Parron, padre redentorista, é mestre em Pedagogia Universitária pela PUCPR e doutor em Ética Social pela Catholic University of America, nos Estados Unidos.