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No que se refere à nova metodologia do cálculo do PIB que passou a ser utilizada pelo IBGE no dia 21de março, nada tem a ser criticado, pois são aprimoramentos metodológicos que passaram a incorporar resultados de pesquisas anuais do IBGE, dados da Receita Federal, a Pesquisa de Orçamento Familiar de 2003, o Censo Agropecuário de 1996, além da utilização de definições recomendadas pela ONU.

O percentual de variação entre as duas metodologias, a partir de 2001, oscila em torno de 10%, ou seja, as taxas de crescimento do Produto Nacional ficaram maiores, tendo passado no ano de 2006 de 2,9% para 3,7% em 2007. Todavia, quanto aos resultados apresentados, apesar de serem positivos, não devem ser vistos com excessiva euforia, pois apesar de revelarem que a economia está crescendo a taxas maiores, indicam também que ela ainda está muito aquém do desejado.

A alteração gerou alguma polêmica no que tange a dimensão da economia brasileira em comparação com as demais. O fato é que apesar do crescimento ser maior do que supúnhamos, o Brasil ocupa a posição de décima economia mundial, tendo ultrapassado a Coréia do Sul, mas ainda está 21,7% abaixo da Espanha. A oitava posição, divulgada pelo Ministério da Fazenda, leva em conta o cálculo realizado através da paridade do poder de compra (PPP), que trata da equalização do resultado realizada pelo ajustamento da inflação dos países, ou seja, é uma questão de utilização de metodologias diferentes, o que fica é que crescemos 3,7% em 2006, e devemos crescer em torno de 4% em 2007.

Outro aspecto a ser observado é quais foram as variáveis e segmentos que contribuíram para esta variação. Por exemplo, com relação aos dados anteriores, os impostos sobre produtos em 2005 cresceram 41,8%, enquanto que o Valor Adicionado Bruto variou 7,1%, o que representa que a produção não teve um crescimento tão significativo, e ainda que o crescimento dos impostos represente uma maior arrecadação por parte do governo, não pode ser visto como uma melhor condição de acesso da população aos bens e serviços.

Também ocorre que o crescimento apontado pela "nova metodologia", contempla de forma mais intensa o setor informal, que não deve ser interpretado como algo positivo. Outro dado negativo é que a taxa da Formação Bruta de Capital Fixo, que se refere aos investimentos em bens de capital, apresentou redução na comparação entre as séries, caindo de 2,5 pontos percentuais. Por outro lado, no confronto entre os resultados de 2005 e 2006, este indicador registrou crescimento de 5,1 p.p., o que deve ter repercussões positivas sobre a produção em 2007.

Considerando ainda a comparação entre os dois últimos anos, merece atenção o Consumo das Famílias que cresceu 4,3% em 2006, alavancada pelo crescimento da massa salarial real e pelo crédito para pessoas físicas, mas este último tem apresentado sinais de exaustão, o que pode comprometer o crescimento desta variável no futuro. Na comparação entre o resultado das duas metodologias, este agregado cresceu 3,5 p.p.

Quanto às metas estabelecidas pelo governo, o fato do PIB estar apresentando valores mais robustos implica queda na relação superávit primário/PIB, apesar dos valores serem os mesmos. O governo ainda não parece ter se decidido se irá concentrar a sua atuação sobre o valor ou sobre a taxa, até porque a relação entre a dívida e o PIB registrou queda de 49,5% ao final de 2006 para 44,7% agora em fevereiro, em grande parte como conseqüência da nova metodologia.

Carlos Ilton Cleto é professor da FAE, mestre em Desenvolvimento Econômico pela UFPR e doutor em Engenharia de Produção pela UFSC.

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