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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou recentemente os resultados das contas regionais do país para o exercício de 2004, particularmente o Produto Interno Bruto (PIB) das unidades federativas, fruto de esforços conjuntos realizados por aquela instituição e as principais entidades estaduais dedicadas à produção de estatísticas e pesquisas socioeconômicas, visando à uniformização dos procedimentos metodológicos de mensuração e à comparabilidade dos agregados econômicos subnacionais.

Um apanhado sintético das apurações publicadas pelo IBGE permite observar alguns componentes do comportamento da economia paranaense no referido ano. O Produto Interno Bruto (PIB) do estado cresceu 3,2%, contra média nacional de 4,9%, atingindo a cifra de R$ 108,7 bilhões e R$ 10.725,00 per capita, 10,2% superior à média nacional (R$ 9.729,00). Com isso, a participação do Paraná na geração de renda interna brasileira registrou moderado decréscimo de 6,4% em 2003 para 6,2% em 2004, acompanhando tendência observada pelas unidades mais industrializadas do país.

Tome-se como exemplo os casos de Santa Catarina que manteve a contribuição de 4,0%, do Rio Grande do Sul que recuou de 8,2% para 8,1%, de Minas Gerais que ampliou de 9,3% para 9,4% e do Rio de Janeiro que subiu de 12,2% para 12,6%, por conta da maturação dos investimentos em petróleo. O maior declínio de participação foi experimentado por São Paulo: de 31,8% para 30,9%.

Na verdade, em 2004, o Paraná, por ainda dispor de uma estrutura produtiva diferenciada frente à nacional, começou a sentir as agruras da instabilidade das cadeias produtivas ligadas ao setor primário e da política macroeconômica orientada para a valorização da taxa de câmbio. Tais constrangimentos passaram a ofuscar os fatores determinantes do dinamismo construídos desde 2003, sintetizados no binômio formado pelas exportações e pelo agronegócio, impulsionado pela recuperação da economia mundial (ancorada na demanda norte-americana e chinesa), pela elevação das cotações das commodities e por alguns estímulos de natureza tributária e tarifária, concedidos pelo governo estadual, visando à redução de custos e ao aumento das compras de insumos dentro do estado.

Especificamente o PIB da agropecuária paranaense decresceu 3,3% em 2004, contra expansão de 3,0% do brasileiro, puxado pelas reduções das safras de milho, soja, trigo e feijão, em conseqüência de problemas climáticos. Frise-se que como a base de comparação, o ano de 2003, foi de produção recorde de grãos no estado, a colheita de 2004 representou, na prática, o retorno aos satisfatórios níveis de 2002. Em contrapartida, a pecuária exibiu performance positiva, impulsionada pelos abates de aves e de bovinos, dirigidos preferencialmente ao mercado externo.

Em 2004, a performance industrial do Paraná foi a sexta melhor entre os 13 estados brasileiros pesquisados mensalmente pelo IBGE, empatada com a Bahia e atrás de Amazonas, Ceará, Santa Catarina e Pará. A evolução do parque manufatureiro pode ser atribuída ao setor externo, apesar da apreciação da taxa de câmbio, liderado pelas vendas dos produtos do complexo soja e dos segmentos de material de transporte, madeira e carnes.

A variação só não foi maior devido ao fato de a Refinaria da Petrobrás de Araucária, que responde por mais de 1/4 do valor adicionado industrial do estado, ter interrompido a produção durante 56 dias para a realização de revisão técnica, entre abril e junho de 2004, episódio que normalmente acontece a cada cinco anos visando à melhoria da eficiência dos processos produtivos.

Mas o ano de 2004 pode ser considerado o último suspiro. Estatísticas alternativas e/ou parciais para 2005 e 2006 atestam que a base produtiva do Paraná vem sendo vitimada pelo entrelaçamento de alguns fatores negativos, sintetizados na queda de rendimento físico e financeiro do agronegócio e nos efeitos da persistência do viés monetarista/tributarista na gestão macroeconômica do país.

Mais precisamente, a combinação entre a ocorrência de distorções climáticas (secas) por três safras consecutivas, o declínio dos preços internacionais das commodities agrícolas, o aparecimento, a propagação ou os reflexos de problemas fitossanitários (febre aftosa e ameaça da gripe do frango asiática), e o câmbio defasado, retiraram expressiva capacidade de geração de renda dos ramos ligados direta e indiretamente ao setor primário regional.

A propósito desse último ponto, a discrepância nas cotações cambiais entre o período de plantio e colheita, implicou desequilíbrios da estrutura de preços setoriais, marcados pelo acréscimo dos custos de produção (fertilizantes, defensivos etc.) e a desvalorização das cotações dos produtos finais em reais, e crise de liquidez e de endividamento dos produtores.

Gilmar Mendes Lourenço é economista, coordenador do curso de Ciências Econômicas da UniFAE – Centro Universitário – FAE Business School.

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