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O ímpeto e o desembaraço com que o presidente Lula se atira, sacolejando o saco das nomeações no segundo escalão para tentar barrar a instalação da CPI do Apagão ou restringi-la à Câmara, de dócil e saciada maioria – cruzando com o desmoralizante índice de 1% de credibilidade do Congresso na última pesquisa CNT/Sensus, deveria merecer uma análise da oposição, com a sinceridade de quem se confessa ou conversa diante do espelho.

Para começo de papo, a simples definição dos campos de atuação no plenário parlamentar: o governo joga na retranca, defendendo-se, e na articulação de votos para a aprovação de projetos do seu interesse; a oposição ataca, acusa, agride, esperneia para conquistar a opinião pública e tentar virar o placar na próxima eleição.

O governo não precisa do Congresso para viver. Basta-lhe a tranqüilidade do controle majoritário.

Mas, para a oposição, o Congresso é vital, a sua tribuna para os recados ao voto. Ora, é elementar que o guerreiro cuide das suas armas, do fio das espadas à mira das metralhadoras.

O diploma do senador, do deputado federal e estadual ou do vereador é conquistado e abonado pelo voto. Elementar, meu caro. Pois, não parece. A indiferença fingida ou apenas cínica com que o xingamento do 1% passou batido pelos frouxos comentários dos poucos que reagiram e a passividade despistadora da maioria, deixam claro que os representantes do povo perderam a credencial para falar em seu nome. Não são representantes do povo, mas cassados pela nauseada indignação de 99% do eleitorado.

Adiante. Se a oposição cair em si e sobreviver ao trambolhão, soou a hora com desesperante atraso de rever as táticas e partir para a recuperação da tribuna perdida.

Os donos dos comandos das duas Mesas Diretores, os líderes que se revezam no controle das bancadas e os técnicos das soluções mirabolantes e milionárias montaram um fantástico sistema de divulgação das atividades dos detentores de mandatos: jornais, publicações, estações de rádio e de televisão. Certamente que não é o caso de criticar o esforço para aproximar o Legislativo do distinto público que paga a conta.

Os mofinos resultados advertem para o equívoco na montagem da badalação. O sino anda de badalo frouxo. Não agüenta a barulheira infernal dos escândalos, das CPIs que escoaram na cascata das absolvições das barganhas do "eu salvo o seu, você livra a cara do meu", do bailarico da sumida dona Ângela Guadagnin, da roubalheira das ambulâncias e a miuçalha da compra e venda de mandatos na feira livre do início da atual legislatura.

É pouco ou não é tudo. Nos cochichos das tramóias das mordomias, o descaro saltou a cerca de todos os limites. O desprezo nacional pela instituição que não se dá ao respeito, ferve na surda repugnância por calhordices como a restauração da semana parlamentar de três dias úteis, das terças às quintas-feiras, e o meia-volta, volver, do espasmo moralizador da exigência da presença às segundas-feiras. O argumento é um primor de caradurismo: não adianta marcar sessão se ninguém comparece.

O governo joga pesado. Na fase dourada do segundo mandato, Lula desdenha, e com razão, da queda de 57% para 49% da avaliação de ótimo e bom do seu desempenho na pesquisa do Ibope. E que certamente será compensado com as adesões que douram a coesa bancada majoritária. A turma dos pesos pesados impõe o desrespeito: Paulo Maluf, Orestes Quércia, Newton Cardoso, às turras com a esposa em incidente policial; Jader Barbalho, em vigorosa ascensão no controle das posições na máquina amazônica.

O governo está como gosta, bailando nas nuvens. Se a oposição sonha com 2010, deixe de frescura das picuinhas de candidatos, arregace as mangas e vá à luta, com a faxina da casa antes de conversar com o povo.

Villas-Bôas Corrêa é analista político.

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