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O petróleo é nosso! Qualquer cidadão brasileiro que se preze há de concordar com isso; porém, quando se questiona o que fazer com nosso petróleo é que as divergências de opiniões se configuram.

Uns são ferrenhos defensores de que sua exploração deva ser feita unicamente pela Petrobras, admitindo eventual participação minoritária de outras empresas, nacionais ou não. Outros pensam em sua exploração por qualquer ente que tenha capacitação técnica para tal. Estes argumentam, com certa razão, que a Petrobras, combalida pela rapinagem a que foi submetida nos últimos anos, não teria capacidade de levar a cabo, no médio prazo, a exploração da grande reserva de hidrocarbonetos que estaria acumulada nas camadas do dito pré-sal.

Estas duas correntes almejam uma exploração intensiva daquela reserva petrolífera, hipoteticamente gerando enorme volume de recursos financeiros, abarrotando os cofres públicos ou ávidos receptores diversos, o que redundaria em melhoria da qualidade de vida da população. Ao menos é o propalado aos quatro ventos. Se as esperadas reservas “quase infinitas” vão se confirmar e se sua exploração será economicamente viável nas próximas décadas, o tempo e as pesquisas o dirão.

Qualquer ação que implique em um aumento no consumo de combustíveis fósseis deve ser prontamente evitada

Um aspecto não devidamente considerado pela grande maioria das pessoas é a sustentabilidade ambiental da extração e consumo destas e de outras fontes de combustível fóssil. Consumo de petróleo, carvão ou derivados significa, essencialmente, queima – e é aí que reside o problema. Não é uma estúpida questão ideológica ou poesia emanada de ambientalistas avoados e sem noção prática da vida real. É, sim, uma questão perfeitamente avaliável à luz de conhecimentos básicos sobre o planeta em que vivemos e que deveriam estar na cabeça de quem sai de uma escola secundária.

É sabido que o gás carbônico atmosférico é absorvido por vegetais que fixam o carbono em sua estrutura e devolvem o oxigênio ao ar, através da fotossíntese. Este é um processo de equilíbrio dinâmico natural que garante a manutenção de alta concentração de oxigênio e baixo nível de gás carbônico na atmosfera. A fotossíntese transforma energia solar em energia química armazenada na estrutura de compostos de carbono presentes nos seres vivos. Organismos pretéritos em determinadas situações, colocados fora do contato com o ar por processos geológicos, deram origem ao petróleo e outros combustíveis fósseis. Assim sendo, a queima de um combustível fóssil libera energia solar armazenada.

Até aí, tudo bem; o problema é que a liberação dessa energia implica em aumento extraordinário e rápido de gás carbônico na atmosfera, sem mecanismos naturais de compensação na mesma taxa. Temos aí o efeito estufa, desencadeando rápidas alterações climáticas, impactando direta ou indiretamente toda a superfície da Terra com seus seres viventes. A lógica indica que qualquer ação que implique em um aumento no consumo de combustíveis fósseis, ou na diminuição da capacidade de sistemas naturais em retirar o estoque extra de carbono da atmosfera, deve ser prontamente evitada. Considerando estes aspectos, medidas atualmente em discussão no Brasil – como, por exemplo, a liberação do consumo de diesel por veículos de passeio e leniência governamental quanto ao desmatamento das últimas reservas florestais naturais brasileiras – são nitidamente irresponsáveis e devem ser vigorosamente combatidas.

Seria, então, absurdo defender a ideia de que o petróleo do pré-sal é nosso, mas deveremos mantê-lo em sua jazida natural, até que tenhamos conhecimento e capacidade de utiliza-lo para finalidade mais nobre do que simplesmente sua queima visando liberar energia que podemos captar de um modo mais limpo e direto? Eu creio que não, mesmo sem considerar o imenso risco ambiental inerente a sua exploração.

André Virmond Lima Bittencourt é engenheiro químico e doutor em Geologia.
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