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O presidente dos EUA, Joe Biden, e o presidente Jair Bolsonaro.| Foto: Alan Santos/PR

O encontro entre o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e o presidente americano Joe Biden durante a 9ª Cúpula das Américas em Los Angeles, no início do mês de junho, gerou duas linhas de análises distintas, não só no noticiário, como nos bastidores políticos.

Por um lado, houve quem dissesse, com bases em fontes anônimas, que Jair Bolsonaro teria pedido a Joe Biden ajuda para vencer as eleições brasileiras, realizadas neste segundo semestre, vendendo-se como um aliado mais confiável que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a defesa dos interesses americanos. Iniciativa essa que dificilmente será confirmada por alguém disposto a aparecer nos holofotes.

Por outro lado, o presidente brasileiro conseguiu um encontro bilateral com o homem mais poderoso do mundo (ou seria este Xi Jinping, presidente da China?). Isso o ajuda a afastar a imagem que vira e mexe o assombra de pária nas relações internacionais.

A verdade é que a decisão dos Estados Unidos de não convidar Cuba, Nicarágua e Venezuela para esta edição da Cúpula das Américas gerou reações de outros países latino-americanos. O México, por exemplo, abriu mão de participar do encontro sob a alegação de ser contra a exclusão de outras nações das Américas. Na ocasião, também argumentou que seu presidente, Andrés Manuel López Obrador, já visitaria, de toda forma, a Casa Branca em breve e teria a oportunidade de tratar assuntos do interesse do país com Biden.

Assim, se o presidente brasileiro também não participasse, a Cúpula se encontraria totalmente esvaziada e imporia a Joe Biden um forte constrangimento perante o eleitorado americano, já que a atuação internacional do governante está em xeque com os erros no Afeganistão e a invasão russa da Ucrânia.

Aliás, a respeito dessa invasão, ela contribuiu para acelerar a inflação americana, principalmente no que toca a combustíveis e alimentos, campo este que o Brasil se destaca. Assim, se Biden alienasse Bolsonaro, também poderia afastar o Brasil dos EUA no que se refere à compra de alimentos, aumentando o custo da alimentação e, em consequência, também impactando na inflação norte-americana.

Evidentemente, Bolsonaro capitalizou toda a situação e aumentou a importância do seu comparecimento à reunião, de modo a obter de Biden o encontro bilateral nunca ocorrido entre ambos até então, particularmente porque o brasileiro foi enfático em seu apoio à reeleição de Donald Trump e defendeu a teoria de que a vitória do rival do Democrata se deu em cima de fraude eleitora.

Rigorosamente, as edições da Cúpula das Américas não costumam trazer consequências práticas, mas meras exortações, em especial em relação à defesa da democracia no continente. Contudo, ante a substituição dos Estados Unidos pela China como principal parceiro econômico da maioria das nações latino-americanas, a maior economia do mundo se viu forçada a anunciar iniciativas de cooperação econômica que, finalmente, devem ter consequências práticas e representar um incremento de investimentos norte-americanos na região. No final do dia, mesmo diante do boato criado, o encontro entre os dois presidentes foi altamente favorável para Bolsonaro, que pôde reforçar o seu discurso perante as outras nações em um palco privilegiado.

Emanuel Pessoa é bacharel em Direito, mestre em Direito pela Harvard Law School e doutor em Direito Econômico pela Universidade de São Paulo.

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